terça-feira, 4 de maio de 2021

Bernhard Brosius – De Çayönü a Çatalhöyük: emergência e desenvolvimento de uma sociedade igualitária (2004)

Desenho representando a estrutura das edificações de Çatalhöyük (extraído de: link).

Traduzimos um importante texto sobre a história do “comunismo neolítico” na Anatólia, escrito por Bernhard Brosius e publicado no site: Ancient Communism: Utopia – legacy of a distant past. Este texto também foi publicado em uma forma ligeiramente modificada sob o título “Vergessene Welt” em Inprekorr, 400/401, 24-29, 2005 (link). Não obtivemos acesso à sua versão modificada, então nos baseamos integralmente na primeira versão, de 2004.

Gostaríamos de lembrar aqui a tradução que já fizemos dos textos do antigo “Nuevo Curso” e atualmente “Communia”, sobre o que eles chamam de “comunismo primitivo” e a história que “não nos contaram” acerca desse antigo modo de produção. Eis, respectivamente, os links da primeira e segunda parte: O comunismo primitivo não foi o que te contaram, As cidades do comunismo primitivo.

Também indicamos alguns vídeos sobre o assunto (em que é possível ativar a tradução automática de legendas pelo YouTube): La primera ciudad de la Historia: Çatalhöyük (2020); What we learned from 25 Years of Research at Catalhoyuk (2020). O primeiro é uma ótima introdução para qualquer público interessado no tema, o segundo é um resumo dos trabalhos da equipe de pesquisa liderada por Ian Hodder sobre o sítio arqueológico.

Curiosidade: adicionamos na capa do blog um símbolo que é, na verdade, um selo encontrado em Çatalhöyük. Durante o 7º e 6º milênio a.C., as pessoas usavam carimbos para decorar seus corpos com padrões geométricos coloridos. Desta forma, eles se adornavam antes de grandes ocasiões cerimoniais. Estas festas, com música, dança e fartura de comida, constituíram um elemento essencial para a coesão social. Assim, nos apropriamos desse selo como símbolo do comunismo neolítico.


Observação: as notas do texto estão indicadas e numeradas entre colchetes. Elas se encontram ao final do texto.

***


A descoberta da civilização inicial da Anatólia


Em 1958, enquanto explorava o sul da Anatólia, o arqueólogo britânico James Mellaart descobriu um monte que consiste em níveis de assentamento do período neolítico. Isso o fascinou, porque era o sítio arqueológico do neolítico mais extenso conhecido no Oriente Próximo. Uma vez que este monte está situado em uma bifurcação, é chamado de “monte na bifurcação”: Çatalhöyük (do turco “çatal” = “garfo”, “höyük” = “moledro”) (figura 1). Em 1961, Mellaart iniciou as escavações que duraram até 1965 (com uma pausa em 1964). Em 1993, as investigações foram retomadas. As novas escavações, sob a direção do arqueólogo britânico Ian Hodder, foram projetadas por 25 anos e estão entre os maiores projetos arqueológicos de nosso tempo (Balter, 1998: 1442/2).

O monte consiste em doze níveis de construção de uma cidade neolítica habitada desde 7300 a.C. até 6100 a.C., ou seja, 1200 anos sem interrupção [1]. De acordo com as estimativas atuais, cerca de 10.000 pessoas viviam juntas em Çatalhöyük (Hodder 1998: 8/1). O assentamento não foi destruído nem saqueado. Um grande número de achados bem preservados aguardava Mellaart e Hodder.

Embora Mellaart tenha sido o primeiro a descobrir uma cidade neolítica, ele não descobriu o mais antigo e “primeiro” desses assentamentos. Quanto mais os arqueólogos foram para o leste da Anatólia durante as décadas seguintes, mais velhos se tornaram os centros culturais que encontraram (figura 1). Ainda em 1990, Hallan Çemi foi descoberto como o (agora conhecido) assentamento mais antigo de pessoas permanentemente assentadas (Rosenberg 1999, Rosenberg e Redding 2000). Hallan Çemi foi fundado em 10.200 a.C.!

Figura 1: Mapa exibindo os centros das primeiras civilizações da Anatólia e as datas em que foram fundadas.

Agora vamos fazer uma pequena pausa aqui para examinar esses dados em ordem cronológica: por volta de 11.000 a.C., ainda havia paredes de cavernas sendo pintadas nos Pireneus, 800 anos antes da fundação de Hallan Çemi (Lorblanchet, 1997: 268). 800 anos após a fundação de Hallan Çemi, por volta de 9700 a.C., a Idade do Gelo terminou (Caspers et al., 1999: 93). Se Hallan Çemi, na Anatólia oriental, representa o início de uma época, Beycesultan, fundada em 4600 a.C., situada mais a oeste, representa o seu fim (Mellaart, 1998: 61). Por volta de 4000 a.C., as classes exploradoras começam a se estabelecer e em 3000 a.C. finalmente chegam ao poder. O desenvolvimento de armas de metal, um sistema de escrita e uma autoridade governante constituíram os mecanismos de opressão mais eficazes disponíveis para a emergente classe dominante exploradora. Beycesultan, semelhante a Troya, torna-se a capital de um renomado vice-reino dos hititas (Lloyd ,1974: 211). Aqui fazemos a conexão com a história.

As antigas civilizações da Anatólia abrangem espaço-temporalmente desde o final da Idade do Gelo (no leste), por um lado, até o início da história (no oeste), por outro. Os 6.000 anos intermediários compreendem exatamente a idade do Neolítico, ou seja, a última fase da Idade da Pedra, quando as pessoas ainda não produziam suas ferramentas de metal, mas já viviam uma vida estável e praticavam a agricultura e a pecuária.

O Neolítico começa com a “Revolução Neolítica”. Portanto, vamos também começar nossa jornada ao passado com a revolução neolítica em um local chamado Çayönü, bem no leste da Anatólia (figura 1), há 10.000 anos. No Leste da Anatólia, encontramos as raízes de Çatalhöyük (Voigt, 2000), a antiga civilização da Anatólia e o comunismo da Anatólia (Özdoğan, 1997).

A revolução social


O termo “Revolução Neolítica” foi cunhado em 1936 pelo arqueólogo marxista Vere Gordon Childe (Patterson, 2003: 44). O objetivo era descrever a transição da sociedade de coleta nômade para um modo de vida estabelecido no que tange à produção de alimentos. O termo é formado como uma analogia à “Revolução Industrial”, uma revolução apenas das forças produtivas (Grünert, 1982: 167-169). No entanto, há alguns anos tornou-se evidente que a revolução das forças produtivas acabou sendo uma verdadeira revolução social, uma transformação revolucionária de todas as condições sociais.

Em Çayönü, na Anatólia Oriental (figura 1), as várias fases da revolução neolítica podem ser claramente rastreadas ao longo da sucessão de níveis de construção. Embora nenhuma das inovações básicas, como construção de casas, agricultura e pecuária, tenham se originado na própria Çayönü, a ordem temporal em que as novas técnicas chegaram a Çayönü correspondem exatamente à ordem em que originalmente se desenvolveram, embora em outro local (Özdoğan, 1997: 12; 1999b: 226-227). As camadas mais baixas (8.800 – 8.500 a.C.) testemunham um modo de vida permanentemente estabelecido com base na caça e na coleta (Özdoğan, 1999a: 42-44); na camada acima (cerca de 8000 a.C.) as primeiras sementes (importadas) são encontradas (Özdoğan, 1994: 40/1); a próxima camada superior documenta a chegada do primeiro rebanho de ovelhas por volta de 7300 a.C. (Cambel e Braidwood, 1983: 164). Com a prática da pecuária, completam-se as três inovações básicas da primeira fase da revolução neolítica das forças produtivas [2].

Esse progresso técnico, no entanto, ocorre em uma sociedade destrutiva, patriarcal e hierárquica de enorme crueldade. Além das casas de habitação e os armazens, em cada um dos níveis de edificação de Çayönü acima mencionados existia um “edifício especial”, de forma retangular, medindo 8x12 m2, sem janelas, escavado numa encosta que delimitava o povoado a nascente (Schirmer, 1990: 378). Em frente a este templo (Özdoğan, 2002: 254), havia um espaço retangular de 1.500 m², flanqueado por monólitos de até 2 m de altura (Cambel e Braidwood, 1983: 162) – em suma, um complexo de monumentalidade intimidante.

Ao norte, este espaço era terminado por três grandes casas senhoriais com frentes, alinhamento e distância entre si idênticas. Essas casas ficavam em uma plataforma elevada sobre fundações maciças feitas de grandes blocos talhados e tinham paredes de pedra cuidadosamente construídas, uma varanda e escadas de pedra. Nessas três casas concentrava-se a riqueza da sociedade: grandes blocos de cristais, esculturas de pedra, conchas do Mar Mediterrâneo e do Mar Vermelho (!) (Özdoğan, 1994: 44), bem como armas importadas de alta qualidade.

Na parte oeste do assentamento, as casas tinham apenas metade do tamanho, eram de qualidade claramente inferior, sem quaisquer características adicionais e não foram construídas de acordo com uma planta padronizada. Apenas as poucas ferramentas necessárias para a vida diária foram encontradas lá.

Se a distribuição desigual de riqueza e poder já se torna evidente apenas ao olhar para a arquitetura e os tesouros descobertos, a existência de propriedade privada dos meios de produção pode ser comprovada diretamente por um achado extraordinário: Todos os recursos necessários para produzir ferramentas que tiveram que ser transportadas de locais distantes por meio de um sistema de comércio de longa distância – pederneira e obsidiana – foram encontrados exclusivamente nas casas situadas perto do templo. Lá eles foram armazenados em blocos de até 5 quilos. (Lembre-se de que as ferramentas acabadas não pesavam mais do que 4 gramas!). O que não foi encontrado, porém, foi esterco de pedras lascadas – nenhum vestígio de atividade produtiva. A situação nas favelas do oeste era exatamente o oposto. Aqui nenhum recurso foi encontrado, mas nas ruas havia restos de oficinas do lascamento de sílex e obsidiana. Ou seja, havia um pequeno grupo de pessoas que possuíam sem trabalhar e um grande grupo de pessoas que trabalhavam sem possuir – em outras palavras, haviam classes sociais. Esses fatos são apresentados de forma condensada por Mehmet e Aslı Özdoğan (1989: 72-74), bem como por Davis (1998), este último quase em uma forma de análise de classe.

É característico que a mais antiga de todas as sociedades de classes conhecidas se apresentem a nós como uma sociedade patriarcal (Hauptmann, 1991: 161/3; 2002: 266-267; Özdoğan, 1999b: 234/2) de destrutividade amarga: os templos sombrios cavados para a montanha como cavernas serviam para manter o poder em uma sociedade que era obviamente rigidamente organizada (Özdoğan, 1994: 43; 1999b: 231) por meio do terror aberto: sacrifícios humanos. Nos templos de todos os níveis de edifícios, enormes quantidades de sangue foram derramadas, que os escavadores recuperaram em espessas crostas em adagas, altares ou funis de drenagem projetados especificamente para esse fim (Schirmer, 1983: 466-467 e nota de rodapé 5; ver também 475; Schirmer, 1990: 382, 384; Hole, 2000: 200-201). A análise da hemoglobina do pigmento sanguíneo isolada revelou que geralmente era sangue humano (Loy e Wood, 1989; Wood 1998). Nas câmaras de um desses templos, havia os crânios de mais de 70 pessoas e partes de esqueletos de mais de 400 indivíduos diferentes (Özdoğan e Özdoğan, 1989: 71/2) “cuidadosamente empilhados até o teto” (Schirmer, 1990: 382). A situação nos outros assentamentos da Anatólia Oriental era comparável [3].

No entanto, enquanto em outras partes do globo o desenvolvimento desse tipo de sociedade de classes avançou (cf. paralelos com as civilizações centro-americanas), a história no sudeste da Anatólia deu uma guinada completamente diferente. Certo dia, há 9200 anos, as casas senhoriais do lado norte da grande praça de Çayönü foram incendiadas, e isso aconteceu tão rápido que os proprietários não conseguiram salvar nenhum de seus tesouros (Davis, 1998: 259/2, 260/2). O templo foi demolido e queimado, e até o chão foi rasgado (Schirmer, 1983: 467; 1990: 384), os pilares de pedra ao redor do espaço livre foram removidos e o mais alto deles foi quebrado (Özdoğan e Özdoğan, 1989: 74; Özdoğan, 1999a: fig. 41, fig. 42). O próprio local – anteriormente mantido e gerido meticulosamente limpo por mais de 1000 anos – foi convertido em um depósito de lixo municipal (Özdoğan e Özdoğan, 1989: 72/1; Özdoğan, 1997: 15). Após uma curta transição caótica, todas as casas foram demolidas. As favelas no oeste desapareceram para sempre, mas apenas a alguns passos do local onde as ruínas das casas senhoriais queimaram um novo Çayönü foi erguido. As novas casas eram comparáveis em tamanho às antigas mansões (Schirmer, 1988: 148-149), mas não havia mais casas ou barracos construídos com um padrão inferior (ver sequência de plantas em Özdoğan, 1999a: fig. 35, fig. 46, fig. 47). Em todas as casas, o trabalho foi feito em comum (Özdoğan, 1999a: 53/1) e todos os indícios de diferenças sociais foram apagados (Özdoğan, 1999a: fig. 47, fig. 50; ver também Schirmer, 1988: 148-149).

Depois que essas descobertas foram documentadas em 1989, o supervisor das escavações de Çayönü, Mehmet Özdoğan, poderia excluir a invasão de povos estrangeiros, guerras, pragas e desastres naturais e, em 1997, ele concluiu que a causa dessa mudança deve ter sido uma revolta social (Özdoğan, 1997: 13-17, 33; confirmado em Özdoğan, 1999b: 232/2; Özdoğan, 2000: 167 e nota de rodapé 7).

Não só os revolucionários daqueles tempos remotos conseguiram derrubar um regime de milhares de anos, sangrento e explorador – além disso, eles também conseguiram desenvolver sua própria sociedade alternativa, concebendo e realizando-a. A revolução social do ano 7200 a.C. é a hora do nascimento do comunismo neolítico. Surge uma sociedade igualitária e sem classes em que mulheres e homens são iguais, uma sociedade que rapidamente se espalha por toda a Anatólia e quase simultaneamente pelos Bálcãs e que perdurará por 3.000 anos [4].

Çatalhöyük


Daqui em diante, nos restringiremos ao estabelecimento de Çatalhöyük para analisar a sociedade sem classes – não que o tipo de sociedade de Çatalhöyük represente uma exceção [5], mas porque o contexto arqueológico o faz.

Como indicado acima, Çatalhöyük possui uma quantidade surpreendente de achados e edifícios notavelmente bem preservados (Düring, 2001: 1). A conservação de materiais perecíveis é especialmente notável, uma vez que nenhum local comparável de descoberta exibe tais materiais. Um incêndio na história da cidade fez com que o solo na camada inferior se tornasse estéril até pelo menos 1 m de profundidade e todos os materiais orgânicos se carbonizassem no processo (Mellaart, 1967: 210). Assim, produtos de matéria orgânica foram preservados na forma carbonizada e conhecemos os padrões de tecelagem dos tecidos (Burnham, 1965), roupas, artefatos de couro e peles, cestos de cana e esteiras (Mellaart, 1967: 79, 218-220), alimentos carbonizados (Mellaart, 1967: 22-23), bem como talheres de madeira, móveis de madeira, caixas com seu conteúdo, etc. (Mellaart, 1967: 210, 215; Burnham, 1965). Além disso, as pessoas em Çatalhöyük geralmente pintavam quadros em duas paredes de suas casas para documentar aspectos de suas vidas e experiências (Gimbutas, 1990). Enterravam os falecidos sob o chão de suas casas com sepulturas características para que, de certa forma, pudéssemos conhecer pessoalmente os habitantes do assentamento, inclusive seu destino, tanto quanto se pode ler nos esqueletos: idade de morte, sexo, número de nascimentos, doenças, acidentes etc., bem como informações estatísticas deduzidas desses dados, como mortalidade infantil, expectativa de vida, etc. (Angel, 1971; Hamilton, 1996: 242-262). Novos métodos permitem analisar microelementos nos dentes (Molleson e Andrews, 1996) e analisar o colágeno nos ossos (Richards et al., 2003) e, assim, fornecer informações sobre o que as pessoas comeram nos últimos anos antes de sua morte.

Em poucas palavras: sabemos mais sobre a Çatalhöyük pré-histórica do que sobre muitas civilizações históricas que estão mais próximas de nós no tempo.

Mas como sabemos que esta sociedade não tinha classes?

Geralmente, existem três critérios, mesmo quatro no caso de Çatalhöyük, que devem ser analisados em conjunto:

  1. Arquitetura: Nas sociedades de classes, a arquitetura projetada para viver e governar os membros da classe dominante difere consideravelmente da arquitetura projetada para viver e trabalhar os da classe explorada, não apenas em termos de quantidade (de espaço vital), mas também em termos de qualidade (da estrutura). Nunca foi difícil para um arqueólogo no Egito diferenciar entre o palácio de um faraó e a residência de uma família de camponeses.
  2. Bens fúnebres: Se é comum em uma sociedade enterrar bens fúnebres com o falecido, é possível deduzir diferentes classes sociais desses bens fúnebres quando diferem substancialmente em qualidade. O mesmo se aplica a:
  3. Equipamentos com bens de consumo: Em ambos os casos, deixe-me citar o exemplo do faraó e da família de camponeses novamente para fins ilustrativos. É importante, entretanto, que tanto no que diz respeito aos bens mortais quanto aos equipamentos com bens de consumo, as diferenças graduais não apresentam um critério para as diferentes classes sociais. Uma peça proeminente em uma sepultura normal, certas diferenças de qualidade entre bens de consumo ou objetos funerários que são um pouco mais ricos ou um pouco mais pobres são típicas das classes mais baixas e já podem ser detectadas em famílias rurais e proletárias do Egito Antigo (Childe, 1952: 61-62).

Arquitetura, objetos funerários e equipamentos com bens de consumo: todos estes estão excepcionalmente bem preservados em Çatalhöyük e lançam uma luz sobre a estrutura sem classes desta sociedade. Além disso, outro critério desempenha um papel:

Lawrence Angel, que analisou os esqueletos recuperados, também procurou o abrasão dos ossos e em todos os esqueletos dos trabalhadores encontrou indícios de trabalho físico duro (Angel, 1971: 90-92; sobre as novas descobertas confirmadas por Hodder, 2004: 39). Angel escreveu: “Estas são adaptações impressionantes, mas esperáveis em um povo tão ativo quanto os afrescos de Çatal Hüyük” (Angel, 1971: 92) e concluiu: “O preço pela criatividade e estabilidade relativa … foi um trabalho árduo da parte de todos” (Angel, 1971: 96). Em contraste, nas sociedades de classes, como é geralmente conhecido, os possuidores não trabalham, então os membros da classe dominante podem apresentar doenças de riqueza, mas nenhum abrasão dos ossos gerado pelo trabalho físico duro.

Sociedade sem classes


A chave para compreender a estrutura da sociedade de Çatalhöyük, no entanto, é sua arquitetura.

As casas em Çatalhöyük ficavam de parede a parede, sem nenhum espaço entre elas, embora cada casa tivesse suas próprias paredes e um telhado plano. A cidade se espalhava em terraços ao longo do monte (figura 2) e havia poucos pátios situados no meio dessa “estrutura em favo de mel” (Mellaart, 1967: 54-59).

Figura 2: Desenho da localização de Catal Höyük.

O acesso a essas casas só era possível por meio de coberturas cruzadas. Em cada telhado, havia uma escada que permitia às pessoas que moravam no interior do assentamento subir de telhado em telhado em direção à sua própria casa. Nas coberturas, havia uma abertura protegida por uma tampa. Aqui estava a escada que descia para dentro da casa (ver figura 3) (Mellaart, 1967: 56-58).

No meio da selva, os telhados de Çatalhöyük formaram uma paisagem artificial criada por homens (figura 2) que agora passou a ser considerada uma conquista cultural independente (Lewis-Williams, 2004: 32). Nesses telhados haviam contêineres de armazenamento, lareiras e oficinas (figura 3). Os telhados eram o espaço real de produção e comunicação e não tinham caráter privado (Düring, 2002: 11/2). Torna-se claro que a vida em Çatalhöyük deve ter sido regulada por uma abundância de acordos mútuos: não só era necessário que todos os alimentos fossem transportados pelos telhados – cada cueiro usado significava uma descida adicional de todos os telhados até o rio (figura 2). Material de construção para novos edifícios, bem como argila e água para o reboco anual das paredes internas das casas: tudo tinha de ser transportado pelas escadas e telhados de outras famílias (Mellaart, 1967: 49-50). Os achados de dois telhados desabados que caíram nas casas mostram que os telhados não eram infinitamente estáveis (Hodder, 1998: 8/2; 2003: 11/1). Catástrofes só poderiam ser evitadas por uma rede complexa de acordos vinculativos (Martin e Russell, 2000: 68), práticas que se tornaram rotineiras (Hodder, 1998: 9/1), cujos vestígios físicos hoje em dia devem aparecer como indicações de rituais (Hodder, 1998: 10/2; Lewis-Williams, 2004: 56).

Figura 3: Desenho da localização do bairro em Çatalhöyük.

A planta de todas as casas era retangular e na parede sul – onde a escada descia do telhado para a casa – ficava a ala da cozinha com forno e lareira. Nas paredes opostas, no norte e no leste, havia plataformas de tijolos onde as pessoas podiam sentar, comer e dormir (figura 4) (Mellaart, 1967: 56-60). Essas plataformas pertenciam a um adulto (possivelmente com um bebê) ou a duas crianças. Abaixo dessas plataformas, os mortos foram enterrados. As paredes acima foram embelezadas com pinturas ou relevos. A parte central quadrada entre a ala da cozinha e as plataformas era coberta por uma esteira entrançada e, semelhante aos telhados, servia como local de trabalho, como mostra o monturo encontrado (Martin e Russell, 2000: 61-62).

Na verdade, em Çatalhöyük havia apenas uma casa – em 1500 cópias. Além disso, o princípio de construção é mantido em todos os níveis de construção, de modo que por 1200 anos apenas este tipo de casa foi construída, como pode ser visto na figura 4. Tanto este material em questão, quanto a planta baixa, altura e layout da sala (Mellaart, 1967: 56-64) e até mesmo fornecimento de luz (Mellaart 1967: 68). O design de interiores, ou seja, a decoração das paredes e plataformas, variou apenas gradualmente (Hodder, 1996b: 362). Mesmo esse tipo de arquitetura não deixa espaço para diferenças sociais. Todas as casas eram iguais em qualidade. Arquitetura representacional, como templos ou palácios, estão completamente ausentes. Cada edifício estava habitado. A divisão entre atividades “sacras” e “profanas” não foi marcada pela construção de edifícios diferentes (Hodder, 1996a: 6, 1996b: 362), mas dentro de cada casa pela existência de uma área sacra (as plataformas abaixo das pinturas murais) e uma parte profana do edifício (área da cozinha e local de trabalho no centro) (Hodder, 1998: 9; Düring, 2001: 4/2). Assim, a existência de sacerdotes profissionais era desnecessária. (A partir dos resultados das escavações em Çayönü, pode-se deduzir que, dentro da estrutura da revolução social, os edifícios de culto e o sacerdócio foram geralmente abolidos,[Özdoğan, 1997: 16-17; Özdoğan 2002]). Em 2003, presumiu-se que apenas umas poucas estradas secundárias levavam ao centro. Desde uma suposta arquitetura representacional lá (Mellink e Filip, 1985: 19), Hodder iniciou escavações e encontrou … o depósito de lixo central. (“… há pouca evidência de espaços e edifícios públicos – mais uma vez o Çatalhöyük Neolítico parece consistir apenas de casas e montes” [Hodder, 2003: 10]).

Figura 4: Vista interna de uma casa típica em Çatalhöyü.

A natureza igualitária da sociedade do povo de Çatalhöyük é ainda reforçada pela única diferença entre o uso do espaço nas casas: o espaço vital. Corresponde ao tamanho da família de forma que cada adulto, ou duas crianças com menos de 15 anos, respectivamente, tenham à sua disposição 10 a 12 m2. O tamanho da família pode ser deduzido do número de plataformas (Mellaart, 1964: 93; Mellaart, 1967: 60, 67; Hodder e Matthews, 1998: 59-51 e fig. 6.3).

Uma vez que uma casa pode servir como um espaço de vida por cerca de 120 anos (Mellaart, 1967: 51), a pergunta que deve ser feita é: como as pessoas adaptaram seu espaço de vida ao número variável de habitantes? Uma resposta pode ser dada pela planta baixa (Mellaart, 1967: 56). Cada casa com três plataformas (correspondendo a cerca de 30 m²) incluía 1 a 2 pequenos quartos de cerca de 10 a 12 m² de área útil cada, conforme mostrado na figura 4. Essas salas serviam para manter suprimentos, mas, acima de tudo, para descartar esterco inorgânico, como fragmentos de cerâmica, sobras de lascas de pedra ou gesso, cinzas da lareira e do forno etc. (Martin e Russell, 2000: 62/2-63/1). Quando surgia a necessidade de mais espaço para morar, o monturo era trazido do cômodo para um canteiro de obras onde era necessário para o enchimento e para a produção de um piso nivelado para a fundação de uma nova casa (Martin e Russell, 2000: 66-68). O quarto esvaziado e limpo ficou então à disposição para mais espaço habitável (Düring, 2001: 5/2). Assim, fica claro por que, com as casas ampliadas, os pequenos quartos estão faltando nos planos (Mellaart, 1967: 59). Por outro lado, se apenas uma pessoa permanecesse na casa, o espaço vital era, na verdade, reduzido para 12 m² (Hodder e Matthews, 1998: 49-51 e fig. 6.3).

O interessante é, portanto, que o máximo de espaço vital possível não era usado desde o início, mas apenas quando surgia a necessidade – e quando ele diminuía, o espaço vital era reduzido novamente. Se todas as casas fossem igualmente grandes, teria dado a impressão de igualdade do lado de fora, mas, na verdade, as pessoas individuais teriam sido tratadas de forma muito desigual: um indivíduo em uma família grande teria menos espaço à sua disposição do que em uma pequena. O fato das casas estarem adaptadas às circunstâncias reais garantiu que cada pessoa tivesse sempre de 10 a 12 m2 para si. As “casas de viver” de Çatalhöyük (Balter, 1998: 1445; Hodder, 2002: 5/2) mostram que as necessidades das pessoas eram uma base socialmente obrigatória da produção. Esta evidência é confirmada e complementada pela análise de objetos de sepultamento e esqueletos.

Individualidade e relações de gênero


Os objetos de sepultamento encontrados nas sepulturas enfatizam não apenas a igualdade social, uma vez que diferem apenas marginalmente quanto à sua quantidade e caráter (Mellaart, 1967: 206), mas também confirmam as diferenças individuais entre as pessoas. Os objetos de sepultamento variam até mesmo dentro de um mesmo espaço de vida (Mellaart, 1963: 100f.) E, portanto, antes documentam diferenças entre indivíduos do que diferenças devido ao pertencimento a classes diferentes (Childe, 1952: 143-144).

Mellaart não conseguia imaginar que a riqueza social que descobriu pudesse ser generalizada e igualmente distribuída. Portanto, ele presumiu que a área que escavou era o bairro dos sacerdotes e, no resto da cidade, as circunstâncias deviam ser mais pobres. Essa era uma suposição que poderia ser rejeitada com bons argumentos, especialmente após os resultados dos exames de esqueleto terem sido publicados por Angel em 1971. Já em 1969, foi demonstrado que as descobertas coletivas eram mais fáceis de se conciliar com uma sociedade sem estratificação (Narr, 1969: 12/2; ver especialmente Grünert, 1982: 194; Hermann 1983: 65-68, e, com base nos resultados de Mellaart: Hummel, 1996: 269). As primeiras investigações de Hodder provaram que Çatalhöyük parecia em toda parte como na área escavada por Mellaart (Hodder, 1996b: 360/2-361/1; Balter, 1998: 1443/2; Hodder, 2003: 10). Isso significa que em Çatalhöyük estão ausentes as diferenças entre as pessoas que são tão marcantes em uma sociedade dividida em classes. Os arqueólogos, portanto, descrevem esta sociedade como igualitária (Balter, 1999: 891/3; Moore, 1998) ou discutem diferenças sutis entre uma sociedade igualitária e uma estratificada (para uma sociedade estratificada: Wason, 1994: 153-179, para uma sociedade intermediária: Hodder, 1996b: 366/2, para uma sociedade puramente igualitária: Hamilton, 1996: 262/2). Aqui, Naomi Hamilton encontra as palavras de resolução para desta discussão: “A diferença não precisa significar desigualdade estrutural. Classificação por idade, status alcançado, papéis sociais baseados em habilidade e conhecimento etc. não necessariamente contradizem um ethos igualitário”.

Os túmulos em Çatalhöyük já mostram que faltava uma divisão social do trabalho, pois os mortos eram enterrados com ferramentas para várias atividades de produção básica e em cada casa havia sementes (Connolly, 1999: 798/2). No entanto, também se percebe que as pessoas se especializaram parcialmente de acordo com suas aptidões em atividades qualificadas que ultrapassavam a produção básica, desde objetos de enterro como utensílios de pintura ou cobre (Mellaart, 1967: 209). Presumivelmente, ao produzir cerâmica, as pessoas em Çatalhöyük descobriram como fundir cobre metálico a partir de minério de cobre, conforme documentado pela escória preservada (Mellaart, 1967: 217-218).

Há uma diferença marcante para as sociedades de classes: os objetos funerários não eram produzidos explicitamente para enterros, mas sim bens que as pessoas usaram durante suas vidas e que lhes foram deixados na morte (Mellaart, 1967: 209). Isso também é válido para objetos que realmente estão no final do “espectro gradual”. Adagas de sílex perfeitamente trabalhadas, espelhos lixados de obsidiana que eram mais brilhantes do que espelhos de metal antigo (Mellaart, 1967: pl. XIV e XII), bem como ferramentas perfeitas feitas de obsidiana (Hamblin, 1975: 17), todos eles encontrados em túmulos: em conjunto documentam as diferentes preferências e habilidades das pessoas que foram capazes de produzi-los e o respeito de seus semelhantes, que deixaram esses objetos para eles em seus túmulos, em vez de retê-los para si mesmos. Peças como essas levaram Mellaart à suposição de que poderiam ter sido produzidas nessa perfeição apenas por especialistas plenos, principalmente porque ele não encontrou nenhum monturo resultante da produção (Mellaart, 1967: 211; Balter, 1998: 1443/2). Durante as novas escavações, foi dada especial atenção, portanto, aos vestígios microscópicos de monturo nos pisos de barro, e foram analisados os resíduos domésticos. Dessa forma, evidências podem ser fornecidas para o monturo resultante do trabalho com pedras. Isso significa que a fabricação sobre pedras não era tarefa de especialistas plenos, mas era realizada em todas as famílias, ou famílias associadas, no caso de processos de produção complexos que só eram possíveis coletivamente (Connolly, 1999: 798-799, ver também Balter, 1998: 1443/2 e Hodder, 1999: 6/1). Os objetos funerários encontrados em uma casa foram produzidos e usados naquela casa e foram enterrados com a pessoa que os fabricou e utilizou. Hodder chega à conclusão de que “não podemos argumentar pelo controle total da produção por uma elite” (Hodder, 1996b: 361/2).

Tal como as “casas de viver” que mudaram com os seus habitantes e foram adaptadas às mudanças das circunstâncias de vida, este apego das pessoas aos objetos da vida quotidiana transmite uma imagem integrada de estruturas orgânicas e coerências vitais.

Verdadeiramente excepcional e especialmente notável é o fato de que as mulheres também receberam ferramentas como objetos de enterro, assim como os homens (Mellaart, 1967: 209) [6]. Nas sociedades de classes posteriores, os homens (das “classes médias”) recebiam objetos funerários que permitiam conclusões sobre sua profissão, mas os túmulos das mulheres continham apenas joias: mulheres ricas recebiam joias ricas, joias pobres para mulheres pobres. O fato de essas mulheres trabalharem tão arduamente – senão ainda mais – do que os homens não se reflete nos objetos de enterro. As ferramentas nas sepulturas femininas do neolítico ilustram que as mulheres eram reconhecidas como iguais na produção de bens. Isso, por sua vez, apoia a suposição de que, nessa sociedade, o antagonismo entre produção e reprodução foi abolido. Existem pinturas murais em Çatalhöyük que complementam e confirmam essa suposição; mostram homens dançando com crianças (Mellaart, 1966: pl. LIV, LV, LIX, LXI), um motivo que não ocorre na sociedade de classes até o século 13 a.C. e também mais tarde apenas levou uma existência sombria. Além disso, em contraste com a declaração de Mellaart, não apenas as mulheres foram enterradas com crianças, mas também os homens (Hamilton, 1996: 253/1).

No entanto, não apenas as mulheres foram enterradas com ferramentas, como também os homens foram enterrados com joias, parcialmente com quantias consideráveis (Hamilton, 1996: 262) [7]. Naomi Hamilton, que na equipe de Hodder é responsável por trabalhar com os túmulos e, portanto, por analisar as relações de gênero, duvida que a definição de um gênero social separado do sexo biológico seja útil na discussão sobre Çatalhöyük. Ela considera o conceito de gênero vinculado aos nossos tempos e seus problemas e considera a possibilidade de que os humanos neolíticos não percebessem o homem e a mulher como sendo uma polaridade (Hamilton, 1996: 262). De fato, já em 1990 Hodder desenvolveu o pensamento de que a polaridade decisiva para a percepção neolítica pode ter sido de uma natureza diferente (Hodder, 1990). É interessante que considerações mais recentes conduzam a uma suposição análoga a respeito do Paleolítico (Heidefrau, 2004). A autora, Elke Heidefrau, escreve:

“Possivelmente, a discussão sobre gênero … principalmente revela algo sobre nossa própria cultura: uma cultura na qual parece imensamente importante saber o sexo de outra pessoa (veja a primeira pergunta feita após o nascimento de uma criança). Para nós, uma cultura em que este não seja o caso parece quase impensável; portanto, tais pensamentos poderiam nos abrir novos horizontes e, assim, enriquecer a discussão de gênero atual!” (Heidefrau, 2004: 148, traduzido do original).

Obviamente, naquela época os indivíduos reais estavam no centro, e quando gostavam de se enfeitar, suas joias não eram tiradas deles quando morriam – independente de seu sexo. E eram as pessoas que produziam, possuíam e usavam ferramentas e, portanto, também as mantinham em seus túmulos – novamente, independentemente de seu sexo.

Hodder dedicou uma publicação separada às relações de gênero, a fim de refutar as concepções mais antigas de um matriarcado em Çatalhöyük (Hodder, 2004). No artigo publicado na “Scientific American”, ele apresenta uma documentação impressionante da igualdade de gênero em Çatalhöyük: não houve diferenças significativas em relação à nutrição, altura corporal e estilo de vida entre homens e mulheres. Homens e mulheres desempenhavam tarefas muito semelhantes, como pode ser deduzido do abrasão de ossos. Ambos os sexos ficavam dentro e fora de casa por tanto tempo e eram igualmente ativos na cozinha quanto na produção de ferramentas. Não há indícios de uma divisão de trabalho relacionada ao gênero. Só da obra de arte se pode deduzir que fora de casa os homens caçavam enquanto as mulheres se dedicavam à agricultura (cf. Hodder, idem). As pinturas murais mostram, no entanto, mulheres junto com homens em representações de perseguição, conforme publicado nos relatórios de escavação de Mellaart (Mellaart, 1966: Pl LIIb, LVIb, LXIIb). E o sepultamento igual de homens e mulheres selou essa igualdade até na morte.

Solidariedade e cuidado


A igualdade em uma sociedade que cria espaço para desenvolver a individualidade leva à pergunta: “Como pessoas que são iguais e livres interagem umas com as outras?” As respostas podem ser encontradas em destinos individuais, deduzidas de relações entre descobertas, em instituições e valores estatísticos de exames de esqueletos.

O destino de um caçador, por exemplo, que foi fisgado por um auroque, levado para sua casa mortalmente ferido, foi cuidado com o sacrifício de sua família até morrer de inflamação isquiática severa e infecção óssea profunda (Angel, 1971: 91) mostra que a família poderia ser mantida mesmo se um membro importante da família estivesse ausente. “Uma menina que […] sofreu de uma fratura no fêmur que pode tê-la aleijado” e que morreu aos dezessete anos recebeu um enterro extraordinariamente elaborado (Mellaart, 1967: 207). Esta menina de dezessete anos, mas também o bebê prematuro (Mellaart, 1967: 83, 207) e sua mãe, que morreu junto com seu filho, foram tratados com ocre vermelho (Mellaart, 1967: 207), um simbolismo que deveria garantir o renascimento (Mellaart, 1963: 98, 1967: 149-150). O enterro de uma mãe que, com seu filho de 12 anos, foi atingido pela morte de um telhado que desabou, ainda hoje está afetando o coração, até mesmo na fotografia dos esqueletos (Balter, 1999: 891). Olhando para essas histórias sobre cuidados e tratamento dos enfermos, torna-se óbvia uma profunda empatia por aqueles tratados injustamente pelo destino.

Não são apenas os destinos individuais que apontam para o cuidado dos enfermos, mas também as instituições. Angel interpreta vários edifícios em Çatalhöyük como hospitais regulares (Angel, 1971: 88).

Comparando os dados estatísticos de Çatalhöyük com os de Elmalı Karataş (ambos de Angel, 1971: 78), uma cidade na mesma região que, no entanto, não foi colonizada no Neolítico, mas no início da Idade do Bronze, é impressionante que lá houve uma mortalidade infantil 30% maior do que em Çatalhöyük. Além disso, na cidade da Idade do Bronze ninguém atingiu uma idade superior a 55-60 anos, enquanto na cidade neolítica uma pequena parte da população atingiu a idade de 60-70 anos. Considerando o enorme progresso da revolução da Idade do Bronze com base em apenas um único exemplo, o arado que trouxe um progresso de produtividade de mais de 100% em comparação com a vara de escavação neolítica, tal declínio da qualidade de vida parece surpreendente. Porém, além da riqueza material (hoje denominado “produto interno bruto”), a qualidade de vida (mortalidade infantil, expectativa de vida, cuidados em caso de doença, garantia de alimentação básica, acesso à educação, igualdade de oportunidades) depende muito mais das condições sociais do que sobre eficiência econômica (Sen, 1993) [8].

E a transição da Idade da Pedra para a Idade do Bronze não implica apenas inúmeras conquistas técnicas, mas também o surgimento da sociedade de classes. A sociedade de classes significa patriarcado e exploração: as mulheres têm que trabalhar até pouco antes de dar à luz – e depois do parto novamente o mais rápido possível. Isso aumenta a mortalidade infantil e diminui a expectativa de vida das mulheres. A sociedade de classes também significa guerra, e isso diminui a expectativa de vida dos homens.

A esperança média de vida em Çatalhöyük era de 32 anos (Angel, 1971: 78, 80). Mesmo que estejamos horrorizados com esse número, temos que perceber que, para as classes exploradas, ele só foi alcançado novamente por volta de 1750 (Herrmann, 1983: 60; ver também Ehmer, 1990: 202). Isso significa que, trezentos anos atrás, o camponês escravo tinha menos expectativa de vida do que um camponês livre da Idade da Pedra!

Desta forma, os efeitos positivos do progresso técnico foram superados pelas consequências negativas da exploração e da opressão.

O que está faltando em Çatalhöyük?


Uma sociedade é caracterizada não apenas pelo que existe. O que está ausente pode ser igualmente revelador.

Por exemplo, faltam evidências de crimes contra a propriedade. O roubo como o crime não podem ser provados arqueologicamente, mas o roubo de túmulo como uma forma especial de roubo pode. O roubo de túmulos existe em todas as culturas em que os objetos têm um valor de troca (ou seja, em que o tempo necessário para produzi-los é medido), em que esses valores são distribuídos desigualmente na sociedade e grandes valores são entregues nas sepulturas dos mortos enquanto os vivos sofrem na miséria. Nenhuma sanção, nem mesmo os métodos de execução mais cruéis, maldições dos deuses, expectativa de horríveis agonias no mundo inferior jamais impediram as pessoas de saquear túmulos sob tais circunstâncias, razão pela qual o roubo de túmulos sempre esteve presente desde os primórdios das sociedades de classes. No entanto, em sociedades onde os bens não têm valor de troca, uma vez que são meramente objetos de uso diário que são produzidos e compartilhados de acordo com a necessidade, mas não trocados, nenhum motivo para roubo de túmulo se aplica. Consequentemente, em Çatalhöyük não há un exemplo de roubo de túmulo; Mellaart encontrou apenas sepulturas não violadas (Mellaart, 1989: 23/1). Assim como qualquer motivo para roubo de túmulo, não há motivo para roubo em geral (Engels, 1845: 542).

O mais impressionante, em comparação com a situação nas sociedades de classes (por exemplo, as de hoje), é o fato de que as representações de agressão estão completamente ausentes.

“O que se pode dizer, no entanto, é que de mais de uma centena de pinturas, não há nenhuma retratando uma cena de conflito ou luta, muito menos de guerra, maus-tratos ou tortura. Não há o sabor do que virá com a ascensão da civilização” (Mellaart, 1989: 22/2).

Da mesma forma, faltam representações do judiciário e da condenação [9]. Uma vez que as representações visuais de atos agressivos estão completamente ausentes, deve-se perguntar se isso deve ser atribuído ao fato de que atos de violência não foram tolerados na sociedade e, portanto, não foram retratados (um fato que seria notável por si mesmo) ou se a própria violência estava ausente na sociedade. A resposta é dada pelos esqueletos de Çatalhöyük.

Pois não há um único indivíduo que mostre indícios de uma morte violenta; nenhum achado de ossos aponta para a violência crua causada por outro indivíduo como causa de morte (mencionado explicitamente por Mellaart, 1967: 225), implicitamente confirmado por Angel (1971) e Hamilton (1996: 255/1)). Ninguém morreu porque outra pessoa o matou ou o feriu letalmente!

Além disso, está faltando formas de se lidar com as pessoas de modo destrutivo para propósitos de culto (religiosos). Ausências:

  • Sem trepanações de crânios (Mellaart, 1967: 225) – como no neolítico da Europa Central;
  • Nenhuma deformação de crânios (Angel, 1971: 94) – como com os povos da América Central ou no Egito Antigo;
  • Nenhuma mutilação ritual das mãos (Mellaart, 1967: 164) – como nas cavernas dos Pirineus na Idade do Gelo;
  • Sem perda de dentes durante os ritos de iniciação (Mellaart, 1967: 225; Angel, 1971: 97) – como com os aborígenes australianos;
  • Nenhum sacrifício de sangue. Isso significa que embora os animais fossem abatidos para consumo, não havia equipamento para a matança ritual (Mellaart, 1967: 77).

E não houve guerra!

Isso vale não apenas para Çatalhöyük (Mellaart, 1967: 69; Balter, 1999: 891/3; Düring, 2001: 2) até o último dia do acordo (Mellaart, 1967: 53), mas para 1500 anos na Anatólia (Grünert, 1982: 195; Herrmann, 1983: 73/1) e de 6500 a.C. até 4000 a.C. para a civilização inteira dos Bálcãs (Gimbutas, 1996: 331/1; Whittle, 1996: 93, 112), cuja paz definitiva já foi enfatizada por Childe (Childe, 1952: 165).

Tomados em conjunto, esses fatos parecem no presente a arqueologia de uma utopia No entanto, devemos entender que 10.000 pessoas sem poder central nunca poderiam ter vivido juntas em tal densidade por tanto tempo se não possuíssem métodos não violentos para resolver conflitos em primeiro lugar. Se o uso da força fizesse parte do repertório de estratégias de resolução de conflitos, assentamentos como Çatalhöyük não teriam sido capazes de sobreviver por tanto tempo – ninguém poderia ter evitado a dissolução do assentamento. Outro argumento a favor da ausência de violência, a princípio, é a já mencionada ausência total de destruição na área do culto: as pessoas desenvolveram imagens do além que eram tão pacíficas quanto elas próprias. “A organização de tantas pessoas sem grande autoridade central só foi possível por causa de um elaborado código social que regulava a vida cotidiana” (Hodder, 1998: 10).

“É difícil evitar a conclusão de que as pessoas de Çatal Hüyük não viam as coisas do nosso jeito; se concentravam na … continuidade da vida … e nas formas de alcançá-la. Parece que entenderam a importância de continuidade, que ‘a vida deve continuar’, uma verdade fundamental que tendemos a perder” (Mellaart, 1989: 11).

Sociedade comunista


É provável que as causas dessa tranquilidade, afinal, fossem de natureza socioeconômica, porque todos sabiam que só poderiam sobreviver juntos (“uma verdade fundamental que tendemos a ignorar”). É fundamental, no entanto, que as pessoas lidem umas com as outras de maneira afetuosa e pacífica, sabendo que dependem umas das outras. Foi somente pela cooperação que eles puderam sobreviver, e dia a dia eles experimentavam de novo que muitas pessoas coletivamente podiam realizar coisas que os indivíduos sozinhos não podiam: Çatalhöyük – ou, como é chamado hoje de uma forma mais geral: “The Neolithic Way of Life” (para a Anatólia: Özdoğan, 1997: 27; para a Europa: Whittle, 1996: 355).

Evitando atividades destrutivas e não tendo exploradores em suas costas que teriam tirado a maior parte dos frutos de seu trabalho, eles poderiam reduzir o tempo médio de trabalho necessário para satisfazer suas necessidades básicas para menos da metade de seu tempo produtivo, como Narr deduziu indiretamente (Narr, 1968/69: 419). Mais da metade de seu tempo permaneceu para satisfazer suas necessidades elaboradas como pode ser visto na produção surpreendente de bens de consumo (por exemplo, Mellaart, 1964: 84-92; Mellaart, 1967: 215, 218-220), na diversidade e qualidade da alimentação (Mellaart, 1967: 224; Helbaek, 1964; Richards et al., 2003), e na vida social. Isso é documentado pela arte cuja tarefa era ensinar as regras da vida social diária (Hodder, 1998: 10): pintura (Mellaart, 1989), música (Stockmann, 1985), danças e festas frequentes. De pinturas murais (por exemplo, Mellaart, 1962: Pl. XIV, XV, XVII, XVIII) e do fato surpreendente de que os ossos da coxa de quase metade dos adultos apresentavam uma alteração anatômica que pode ter se originado de dança excessiva (Angel, 1971: 92-94) deve-se deduzir que as pessoas festejavam com frequência. A escavação dos restos de tal festa também prova que eles não deixaram nada a desejar (Martin e Russell, 2000: 66).

Assim, festejar e dançar contribuiu consideravelmente para a estabilidade da sociedade e evitou a coleta de muito excedente.

Além disso, os vestígios daqueles dias longínquos podem transmitir uma ideia do que é possível, mesmo na idade da pedra, quando as relações sociais são humanas e o homem é livre.

Depois que a utopia socialista foi desacreditada por causa do estalinismo, a descoberta dessa sociedade adquire uma importância particular. Permite a coleta de dados empíricos e fornece um exemplo para as correspondências entre as relações comunistas de produção e a estrutura social – e isso em uma sociedade que durou não apenas 80, mas 3 mil anos.

O fato de um desenvolvimento como o descrito acima ter sido possível na Idade da Pedra mais uma vez confirma que não é o desenvolvimento técnico, mas a organização das relações sociais que é crucial para determinar a qualidade de vida e o caráter da sociedade.

E o que seria possível hoje – no estado atual de desenvolvimento técnico – se ao menos tivéssemos condições sociais razoáveis…

Notas:


[1] – Todas as especificações de tempo foram retiradas de (Thissen, 2002).

[2] – A segunda fase da revolução das forças produtivas compreendeu a domesticação de outros tipos de plantas e animais, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias, como a produção de cerâmica e metais. No entanto, isso só aconteceu após a revolução social.

[3] – Para sacrifícios humanos, cf. por exemplo: Hauptmann, 1991; Hauptmann, 1991/92: 22; Zick, 1992; para o tipo de sociedade ver, especialmente: Özdoğan e Özdoğan, 1998; Rosenberg, 1999; Rosenberg e Redding, 2000; Hole, 2000.

[4] – Sobre as transformações sociais, ver os quatro artigos fundamentais de Özdoğan (1994, 1997, 2000 e 2002). Para uma revolução semelhante em outro local (Göbekli Tepe), consulte a seção final do artigo de Schmidt (2000: 41).

[5] – Sobre a Anatólia, cf. por exemplo, as referências na nota 4. Sobre a Europa, cf. por exemplo: Gimbutas, 1996: 323-349 e Whittle, 1996: 69-71, 90-96, 355 e 370-371.

[6] – Isso parece ter se mantido verdadeiro para as civilizações neolíticas em geral, mesmo para a cultura de cerâmica linear da Europa Central (linearbandkeramik) (Nordholz, 2004: 124). No entanto, essa inter-relação raramente parece ser observada.

[7] – O argumento inverso de Mellaart deriva do fato de que ele frequentemente determinava o sexo dos esqueletos de acordo com seus bens mortais (!). Foi somente após os exames anatômicos dos esqueletos de Angel, seis anos depois, que os verdadeiros fatos foram revelados (Hamilton, 1996: 245/2, 258/2).

[8] – Aqui você encontra mais referências a essas correlações importantes, deliberadamente suprimidas por economistas neoliberais.

[9] – É importante notar que as representações de lutas, guerras e execuções não constituem apenas um dos motivos principais da arte da última sociedade de classe, como também foram transmitidas da época anterior (Beltran, 1982: 44-45).

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