sexta-feira, 10 de abril de 2020

Esboços de análise sobre possíveis implicações sociais do novo coronavírus

Imagem de microscópico do novo coronavírus (SARS-CoV-2),
responsável pela doença chamada Covid-19 — Foto: NIAID-RML/AP.

Atualmente vemos o conjunto dos Estados que compõem o modo de produção capitalista declarando “guerra contra o coronavírus”. De fato, as “autoridades” estão realmente lidando com essa situação acionando os mecanismos institucionais que estão amparados em jurisdições de guerra (ou inventando novos, como o “Orçamento de Guerra” aqui no Brasil). Provavelmente vamos passar por uma transição no regime de acumulação mundial do Capital, talvez recuperando um pouco das formas de intervenção estatal do pós-segunda guerra em matéria de políticas econômicas anticíclicas, acompanhadas de um regime de “segurança social” mais militarizada do que nunca. Isso são especulações que precisam ser confirmadas na prática.

No que diz respeito à situação presente, existe uma oposição artificialmente construída entre “salvar vidas” ou “salvar a economia”. É uma falsa oposição, pois a diferença no discurso não altera a dinâmica sistêmica do capitalismo: sempre se trata da economia (ou melhor: da Propriedade Privada), mesmo quando a alternativa é o que andam chamando de “salvar vidas”. A diferença consiste na forma como os administradores da acumulação capitalista vão lidar com essa “pressão seletiva” posta pelo novo coronavírus. Por isso que alguns setores sociais-democratas estão meio entusiasmados com o que chamam de “morte do neoliberalismo”, dado que essa conjuntura pode ser decisiva para esse partido do capital assumir a gestão da acumulação novamente e determinar uma linha desenvolvimentista de gerenciamento do capitalismo (daí aquilo que falei no primeiro parágrafo sobre outra possível política econômica).

Além disso, o nível de reacionarismo continua crescendo a despeito da (ou, até mesmo, conjuntamente com a) retomada de “autoridade” da ciência (ainda que seja questionável que isso realmente esteja acontecendo). Esse nível de reacionarismo vai ter um terreno fértil para germinar caso a social-democracia assuma o poder por algum tempo, permitindo que os neofascistas se reorganizem e acumulem forças.

Sobre a questão da biossegurança: a diferença das medidas mais extremas (como a da Índia e da Filipinas, por exemplo) é de grau e não difere em natureza das medidas dos demais Estados que compõem o capitalismo mundialmente integrado nesta conjuntura de pandemia. Em outras palavras: “salvar vidas” pode muito bem significar “dar carta branca” para as forças repressivas atirarem para matar nos “transgressores da quarentena” (isso que significa, grosso modo, “salvar vidas”). Se a moda pega, as autoridades dos estados capitalistas não terão tanto pudor em autorizar mais mortes para “salvar vidas” noutros períodos de crise, principalmente na recessão econômica porvir. Em defesa da propriedade privada, ou seja, para “salvar vidas” contra, por exemplo, os saques aos supermercados, teremos policiais atirando para matar.

Em síntese: do lado do “salvamento de vidas” está também a política econômica anticíclica e, portanto, o partido social-democrata de administração da acumulação capitalista. É uma alternativa ao neoliberalismo, por isso que estão entusiasmados. Nas suas mãos, a repressão se torna uma questão puramente técnica e/ou é uma medida necessária para evitar o que eles ideologicamente construíram como “legado golpista de 2013”, ou seja, para aniquilar “democraticamente” as revoltas sociais. O cientificismo (que não representa “as ciências” enquanto tais) também está do lado deles, portanto não se surpreendam se vários cientistas ingressarem nas fileiras desse partido, afinal “quadros técnicos” de “intelectuais orgânicos” sempre são uma necessidade.

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