Texto extraído da Revista Verve, nº 12, outubro de 2007. Núcleo de Sociabilidade Libertária Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP. São Paulo. p. 81-115. Tradução: Beatriz Carneiro.
PREFÁCIO
Nós vivemos em uma época na qual duas civilizações estão lutando pela existência. A sociedade de hoje atraca-se mortalmente com o Novo Ideal. A Revolução Russa foi apenas o primeiro combate sério das duas forças, cuja luta deve continuar até o triunfo final de um ou de outro. A Revolução Russa falhou – falhou em seu propósito último. Mas esta falha é temporária. No que se refere a revolucionar o pensamento e sentimento das massas da Rússia e do mundo, a minar os conceitos fundamentais da sociedade existente e a acender a tocha da fé e da esperança pelos dias melhores, a Revolução Russa tem sido de incalculável valor educativo e inspirador para a humanidade. Embora a Revolução Russa tenha falhado em atingir sua verdadeira meta, permanecerá para sempre um magnífico evento histórico. E, mesmo assim – tremenda como é – não passa de um incidente na gigantesca guerra entre dois mundos. A guerra continua e continuará. Nesta guerra o capitalismo já está enfrentando seu declínio. Ainda mais com o capitalismo, o governo político centralizado, o Estado, está também em declínio – e esta é a lição mais significativa da Revolução Russa como eu a considero. Este panfleto foi recentemente publicado em holandês. Daí, um crítico da Holanda me escreveu: “Você falhou em mostrar a lição plena da Revolução Russa.” Eu concordo com ele. Serão necessários diversos volumes para fornecer a “lição plena” de um evento tão tremendo como a Revolução Russa. Meu propósito é mais modesto. Será necessário o esforço de muitas mentes para esclarecer ao mundo o significado da Revolução Russa, a potencialidade dos enlaces de ideais e ideias envolvidas nisso. Eu apenas quero contribuir com minha pequena parte. Eu decidira incorporar o resultado de meus dois anos de estudo e observação na Rússia em uma série de panfletos sob o título geral de Série da Revolução Russa. A Série englobará uma revisão crítica das fases mais importantes da revolução conjuntamente com uma análise construtiva de algumas das lições vitais que dela foram extraídas.
Se a Série aqui presente for capaz de tornar as coisas mais claras em relação à Rússia, se ajudar os trabalhadores a enxergar a trilha da libertação um pouco mais reta, então considerarei meu esforço inteiramente recompensado.
Maio de 1922.
I
É extremamente surpreendente como, fora da Rússia, pouco é conhecido acerca da situação e das condições atuais preponderantes no país. Mesmo pessoas inteligentes, especialmente entre os trabalhadores, têm as mais confusas ideias sobre o caráter da Revolução Russa, seu desenvolvimento e seu status político e socioeconômico atual. Compreender a Rússia e o que tem acontecido lá desde 1917 tem sido por demais inadequado, para dizer o mínimo. Embora a grande maioria das pessoas que se coloca contra ou a favor da revolução, fala ainda contra ou a favor dos bolchevistas, em quase lugar algum, porém, há clareza e conhecimento concreto em relação aos assuntos vitais envolvidos. Genericamente falando, os pontos de vista expressados – amigáveis ou não – estão baseados em informação incompleta e não confiável, frequentemente falsa, sobre a Revolução Russa, sua história e a fase atual do regime bolchevista. Mas, em geral, não apenas as opiniões contempladas fundamentaram-se em dados errados ou insuficientes; com frequência são profundamente avivadas – ou melhor, distorcidas –, por sentimentos partidários, preconceitos pessoais e interesses de classe. No conjunto, é a completa ignorância que caracteriza de uma forma ou de outra, a atitude da grande maioria do povo em relação à Rússia e seus eventos.
E, apesar disso, entender a situação russa é um conhecimento dos mais vitais ao progresso e ao bem-estar futuro do mundo. De uma correta avaliação da Revolução Russa, do papel dos bolchevistas e dos outros partidos e movimentos políticos nela, e das causas que acarretaram a situação atual – em suma, de uma concepção acabada de todo problema – dependem quais lições podemos tirar dos grandes eventos históricos de 1917. Essas lições irão, para o bem ou para o mal, afetar as opiniões e as atividades de grandes massas da humanidade. Em outras palavras, o advento de mudanças sociais – e o trabalho e esforço revolucionários que as precedem e as acompanham – serão profunda e essencialmente influenciadas pela compreensão popular do que realmente aconteceu na Rússia. É geralmente admitido que a Revolução Russa é o mais importante evento histórico desde a Grande Revolução Francesa. Eu até estou inclinado a pensar que, da perspectiva de suas consequências potenciais, a revolução de 1917 é o mais significativo fato em toda história conhecida da humanidade. É a única revolução que almejou de fato uma revolução social mundial, é a única que realmente aboliu o sistema capitalista na escala ampla de um país e fundamentalmente alterou todas relações sociais existentes dentro dele. Um evento de tal magnitude histórica e humana não pode ser julgado sob um estreito ponto de vista partidário. Nenhum sentimento subjetivo nem preconceito devem ser conscientemente permitidos para enfeitar as atitudes de alguém. Acima de tudo, cada fase da revolução deve ser cuidadosamente estudada, sem viés ou ideia preconcebida, e todos os fatos considerados desapaixonadamente, para nos permitir formar uma opinião justa e adequada. Eu creio – estou firmemente convicto – que, deixando de lado qualquer outra consideração, apenas a verdade total sobre a Rússia pode ser de extremo auxílio.
Infelizmente, como regra geral, tal não tem sido o caso até agora. É natural que a Revolução Russa desperte, de um lado, os mais amargos antagonismos, e de outro, a mais apaixonada defesa. Mas o partidarismo, em qualquer campo, não é um juiz objetivo. Falando francamente, as mentiras mais atrozes tanto quanto ridículos contos de fadas têm sido espalhados sobre a Rússia e continuam a ser espalhados até hoje. Naturalmente não deve surpreender que os inimigos da Revolução Russa, os inimigos da revolução enquanto tal, os reacionários e seus instrumentos, tenham inundado o mundo com as mais malévolas falsificações dos eventos ocorridos na Rússia. Sobre eles e sua “informação” não preciso gastar nenhuma palavra a mais: aos olhos das pessoas inteligentes e honestas, eles já foram desacreditados há muito tempo. Mas, triste dizer, que são os pretensos amigos da Rússia e da Revolução Russa que têm feito o maior estrago à revolução, ao povo russo e aos melhores interesses das massas trabalhadoras do mundo em virtude do seu exercício de um zelo sem o feitio da verdade. Alguns inconscientemente, devido à ignorância, mas a maioria deles consciente e intencionalmente tem mentido de modo persistente e vivo, desafiando todos os fatos, com a noção errada de que estão “ajudando a Revolução”. Razões referentes à “conveniência política”, à “diplomacia bolchevista”, à alegada “necessidade do momento” e, frequentemente, motivos de considerações menos altruístas os têm movido. A única consideração legítima de homens decentes, de amigos reais da Revolução Russa e da emancipação humana, – assim como a de uma história confiável – a consideração pela verdade, eles têm ignorado completamente. Há honrosas exceções, infelizmente muito poucas: suas vozes têm sempre se perdido na selvageria do equívoco, da falsidade e do exagero. Mas a maioria daqueles que visitaram a Rússia simplesmente mentiram sobre as condições naquele país, – repito isso deliberadamente. Alguns mentiram, pois não tiveram conhecimento de nada melhor, não tiveram o tempo nem a oportunidade de estudar a situação, de aprender os fatos. Fizeram excursões ligeiras, passando dez dias ou poucas semanas em Petrogrado ou Moscou, sem familiaridade com a língua, nem por um momento entrando em contato com a vida real das pessoas, ouvindo e vendo apenas o que lhes era dito ou mostrado pelos prestativos oficiais que os acompanhavam em cada passo. Em muitos casos estes “estudantes” da Revolução eram verdadeiros inocentes no exterior, ingênuos a ponto do ridículo. Estavam tão sem familiaridade com o ambiente, que na maioria dos casos, não tinham nem mesmo a mais débil suspeita que seu afável “intérprete”, tão dedicado em “mostrar e explicar tudo”, era na realidade um membro dos “homens de confiança” especialmente designado para “guiar” visitantes de destaque. Muitos desses visitantes escreveram e falaram copiosamente sobre a Revolução Russa, com pouco conhecimento e muito menos compreensão. Houve outros que tiveram tempo e oportunidade, e alguns deles realmente tentaram estudar a situação seriamente, e não com a mera intenção de obter adequada “fonte” jornalística. Durante os dois anos de minha estadia na Rússia, eu tive oportunidade de entrar em contato pessoal com quase todos visitantes estrangeiros, com as missões sindicais, e com praticamente cada delegado da Europa, Ásia, América e Austrália que se reuniu em Moscou para comparecer ao Congresso da Internacional Comunista e ao Congresso Sindical Revolucionário ocorrido lá ano passado, 1921. A maioria deles pôde ver e entender o que estava acontecendo no país. Mas, de fato, foi uma rara exceção alguém que tivesse visão e coragem suficientes para se dar conta que apenas a verdade integral poderia servir aos melhores interesses da situação. Como regra geral, entretanto, os diversos visitantes da Rússia foram de modo sistemático extremamente descuidados com a verdade no momento em que começaram a “iluminar” o mundo. Suas afirmações resvalaram, frequentemente, a uma idiotice criminosa. Pense em George Lansbury (editor do “Daily Herald” de Londres), por exemplo, afirmando que os ideais de fraternidade, igualdade e amor pregados por Jesus Nazareno estavam sendo realizados na Rússia e isso ao mesmo tempo em que Lênin estava lamentando a “necessidade do comunismo militar imposto a nós pela intervenção e bloqueio dos Aliados”. Considere-se a “igualdade” que dividiu a população da Rússia em 36 categorias, de acordo com a ração e salários recebidos. Outro inglês, um conhecido escritor, enfaticamente declarou que tudo estaria bem na Rússia, não fosse pela interferência externa, enquanto que distritos inteiros do Leste, Sul e na Sibéria, alguns mais extensos que a França, estavam em rebelião armada contra os Bolchevistas e sua política agrária. Outros literatos estavam glorificando o “sistema soviético livre” da Rússia, enquanto 18 mil de seus filhos tombavam mortos em Kronstadt na luta para alcançar sovietes livres. Mas para que ampliar esta prostituição literária? O leitor facilmente se recorda da legião de Ananias[1] que tem arduamente negado a existência das coisas que Lênin tentou explicar como inevitáveis. Eu sei que muitos delegados e outros acreditaram que a situação real russa, se conhecida no exterior, poderia fortalecer a mão dos reacionários e intervencionistas. Forjar uma crença, entretanto, não exigiu pintar a Rússia como um verdadeiro Eldorado proletário. Mas a época em que poderia ter sido considerado desaconselhável falar plenamente da situação russa, passou há tempos. Este período terminou, foi relegado aos arquivos da história pela introdução da “Nova Política Econômica”. Agora chegou a época de aprender a lição plena da revolução e as causas do seu desastre. Para que possamos evitar os erros cometidos (Lênin disse francamente que são muitos), para que sejamos capazes de adotar seus melhores traços, devemos conhecer toda verdade sobre a Rússia. É por isso que considero as atividades de certos proletários como categoricamente criminosas e traidoras dos verdadeiros interesses dos trabalhadores do mundo. Eu me refiro aos homens e mulheres, alguns deles delegados do Congresso organizado em Moscou em 1921, que ainda continuam a propagar as “amigáveis” mentiras sobre a Rússia, iludem com quadros róseos acerca das condições de trabalho naquele país e buscam induzir, mesmo, os trabalhadores de outras terras a migrarem para a Rússia. Eles estão fortalecendo a espantosa confusão já existente na mente popular, enganando o proletariado com falsos relatos sobre o presente e promessas vãs para o futuro próximo. Estão perpetuando a perigosa ilusão de que a revolução está viva e continuamente ativa na Rússia. É uma tática por demais desprezível. Claro que é fácil para um líder trabalhador norte-americano, atuando para elementos radicais, escrever ardorosos relatos sobre a condição dos trabalhadores russos, enquanto está sendo entretido no Luxe, o mais lucrativo hotel de Moscou, às expensas do Estado. Certamente ele pode insistir que “dinheiro não é necessário”. Afinal ele não recebe livre de encargos tudo que seu coração deseja? Ou por que não deveria o presidente dos sindicatos dos agulheteiros não afirmar que os trabalhadores russos desfrutam de plena liberdade da palavra? Ele é cauteloso em não mencionar que apenas os comunistas e os elementos de confiança foram permitidos dentro do âmbito de conversa enquanto que o distinto visitante estava “investigando” as condições das fábricas. Que a história seja misericordiosa com eles.
II
Para que o leitor possa formar uma justa estimativa acerca do que direi a seguir, penso ser necessário esboçar, resumidamente, minha atitude mental no momento de minha chegada na Rússia. Foi há dois anos atrás. Um governo democrático, “o mais livre na terra”, deportou-me junto com outros 248 políticos, do país onde vivi por mais de trinta anos. Eu havia protestado enfaticamente contra o erro moral perpetrado por uma alegada democracia em utilizar métodos que condenou veementemente no caso da autocracia czarista. Eu condenei a deportação de políticos como um ultraje aos mais fundamentais direitos do homem, e eu lutei contra isso como uma questão de princípio. Mas meu coração estava radiante. Já na explosão da revolução de fevereiro eu almejara ir à Rússia. Mas o caso Mooney[2] me deteve: eu não estava inclinado a abandonar a luta. Então, eu mesmo fui feito prisioneiro pelos Estados Unidos e penalizado por minha oposição à carnificina mundial. Durante dois anos, a hospitalidade forçada da penitenciária federal de Atlanta, Geórgia, impediu minha partida. Seguiu-se a deportação. Meu coração estava radiante, eu disse isso? Fracas palavras para expressar a alegria apaixonada que me inundou quando da certeza da visita à Rússia! Eu iria para o país que varreu o czarismo para fora do mapa, eu estava preste a contemplar a terra da revolução social! Poderia haver maior alegria a alguém que, desde a tenra infância, fora um rebelde contra a tirania, cujos sonhos incertos da juventude haviam previsto fraternidade e felicidade humanas, cuja vida inteira estava devotada à revolução social? A viagem foi um alento. Embora nós fossemos prisioneiros, tratados com severidade militar e o “Buford” uma velha banheira furada ameaçando repetidamente nossas vidas durante o mês da Odisseia, entretanto, o pensamento de que estávamos a caminho da terra da promissão revolucionária mantinha todo grupo dos deportados com bom humor e uma agitação em virtude da expectativa do grande dia que estava para chegar em breve. Longa, longa foi a viagem, vergonhosas as condições às quais fomos forçados a enfrentar: amontoados abaixo do convés, vivendo em constante umidade e ar viciado, alimentados pelas mais fracas rações. Nossa paciência estava quase exaurida, não obstante nossa coragem persistente e, por fim, alcançamos nosso destino. Era 19 de Janeiro de 1920, quando tocamos o solo da Rússia Soviética. Um sentimento de solenidade, de veneração, quase me aniquilou. Assim devem ter sentido meus piedosos antepassados entrando pela primeira vez no Santo dos Santos do Templo de Jerusalém[3]. Um forte impulso me fez ajoelhar e beijar o chão – o chão consagrado pelo sangue vivo de gerações de sofredores e mártires, consagrado outra vez pelos revolucionários triunfantes do meu tempo. Nunca antes, nem mesmo quando fui solto do horrível pesadelo de 14 anos de prisão, estive eu tão profundamente emocionado, ansiando por abraçar a humanidade, por depositar meu coração a seus pés, por dar minha vida mil vezes, se fosse possível, a serviço da Revolução Social. Foi o dia mais sublime da minha vida. Fomos recebidos de braços abertos. O hino revolucionário tocado pela Banda Militar vermelha nos recepcionou entusiasticamente enquanto cruzávamos a fronteira russa. Os “vivas” dos defensores da Revolução com seus gorros vermelhos ecoaram através das florestas, atravessando as distâncias como ameaças trovejantes. Com a cabeça inclinada em reverência eu permaneci na presença dos símbolos visíveis da Revolução Triunfante. Com cabeça e coração reverentes. Meu espírito estava orgulhoso, sossegado, porém, com a consciência da genuína Revolução Social. Quanta profundidade, quanta grandeza residiam nisto, que possibilidades incalculáveis estendiam-se em seu panorama! Eu ouvi a tranquila voz de minha alma: “Que tua vida pregressa possa ter contribuído, ainda que pouco, para a realização do grande ideal humano, para isso, para seu bem-sucedido começo”. Conscientizei-me da grande felicidade oferecida a mim: fazer, trabalhar, ajudar com cada fibra do meu ser a completa expressão revolucionária deste povo maravilhoso. Eles lutaram e ganharam. Eles proclamaram a Revolução Social. Isso significou que a opressão foi encerrada, que a submissão e escravidão, as maldições gêmeas dos homens, foram abolidas. A esperança de gerações, de épocas, finalmente foi realizada, a justiça foi estabelecida sobre a terra, ao menos sobre a parte em que está a Rússia. Mas os anos de Guerra e revolução exauriram o país. Há sofrimentos e fome, e muita necessidade de corações firmes e mãos ansiosas por fazer e ajudar. Meu coração canta por alegria. Ah! Eu me doarei inteiro, completamente, ao serviço do povo; eu me rejuvenescerei e voltarei a ser jovem novamente a cada esforço maior, na mais dura tarefa, para o auxílio da prosperidade comum. Minha própria vida eu consagrarei à realização da maior esperança do mundo, a Revolução Social. Logo no primeiro posto do Exército russo, uma assembleia foi preparada para nos recepcionar. O amplo salão, lotado de soldados e marinheiros, as mulheres uniformizadas no palanque dos oradores, os discursos, toda atmosfera palpitando com a Revolução em ação – isso tudo deixou uma profunda impressão em mim. Estimulado a dizer algo, eu agradeci aos camaradas russos pela calorosa recepção de boas vindas aos deportados americanos, congratulei-os por sua luta heroica e expressei a minha grande alegria em estar junto a eles. E então todo meu pensamento e sentimentos fundiram-se em uma só sentença: “Queridos camaradas,” – eu disse – “viemos aqui não para ensinar, mas para aprender, aprender e ajudar”. Desse modo eu entrei na Rússia. Desse modo sentiam meus colegas deportados. Eu permaneci dois anos. O que aprendi, aprendi gradualmente, a cada dia, em várias partes do país. Eu tive oportunidades excepcionais de observação e estudo. Eu fiquei perto dos líderes do Partido Comunista, associei-me com os mais ativos homens e mulheres, participei de seus trabalhos, e viajei amplamente através do país nas mais favoráveis condições para contato pessoal com a vida dos trabalhadores e camponeses. A princípio não pude acreditar que o que eu via era real. Não podia acreditar nos meus olhos, nos meus ouvidos, no meu julgamento. Tal qual aqueles espelhos deformantes que fazem você parecer horrivelmente monstruoso, assim a Rússia parecia refletir a Revolução com uma assustadora perversão. Era uma caricatura pavorosa da vida nova, da esperança do mundo. Eu não entrarei agora em descrições detalhadas das minhas primeiras impressões, das minhas investigações e do longo processo que desembocou na minha convicção final. Eu lutei sem descanso, amargamente, contra mim mesmo. Durante dois anos eu lutei. O mais difícil é convencer alguém de algo que ele não quer ser convencido. E eu admito, eu não quis ser convencido que a revolução na Rússia se tornara uma miragem, uma perigosa decepção. Por muito tempo eu lutei duramente contra esta convicção. No entanto, as provas estavam se acumulando e cada dia trazia mais destrutivos testemunhos. Contra minha vontade, contra minhas esperanças, contra o fogo sagrado da admiração e entusiasmo pela Rússia que queimava dentro de mim, eu fui convencido que a Revolução Russa fora levada à morte. De que modo e por quem?
III
Tem sido dito por alguns escritores que a ascensão bolchevista ao poder decorreu de um coup de main[4], e a desconfiança fora expressa referindo-se à natureza social da transformação de Outubro. Nada poderia estar mais longe da verdade. Enquanto realidade histórica, o grande evento conhecido como Revolução de Outubro foi no sentido mais profundo, uma revolução social. Caracterizou-se por todos princípios de uma tal fundamental mudança. Foi efetuada, não por algum partido político, mas pelo próprio povo, de um modo que transformou radicalmente todas relações socioeconômicas e políticas existentes até então. Mas ela não aconteceu em outubro. Esse mês testemunhou apenas a “sanção legal” formal dos eventos revolucionários que a precederam. Por semanas e meses antes disso, a real Revolução estava marchando por toda Rússia: o proletariado urbano estava tomando posse das lojas e fábricas, enquanto os camponeses expropriavam as grandes propriedades e faziam a terra voltar para seu uso próprio. Ao mesmo tempo, delegações de trabalhadores, comissões de camponeses e sovietes brotavam por todo país e aí começou a transferência de poder do governo provisório aos sovietes. Isto teve lugar, primeiro em Petrogrado, a seguir em Moscou e rapidamente se espalhou pela região do Volga, do distrito de Ural e para a Sibéria. A vontade popular encontrou expressão no slogan “Todo poder aos Sovietes”, e continuou varrendo pela largura e extensão do país. O povo levantou-se, a Revolução estava acontecendo. O princípio central da situação foi captado pela proclamação do Congresso dos Sovietes do Norte: “O governo provisório de Kerensky deve ir; os Sovietes são o único poder!” Era 10 de Outubro. Praticamente todo poder efetivo já estava com os Sovietes. Em Julho a revolta de Petrogrado contra Kerensky fora esmagada, mas em agosto a influência dos trabalhadores revolucionários e da guarnição era suficientemente forte para permitir que eles obstruíssem o ataque planejado por Korniloff. O Soviete de Petrogrado ganhava força dia após dia. Em 16 de outubro, organizou seu próprio Comitê Revolucionário Militar, um ato de desafio e de aberta provocação ao governo. O Soviete, por intermédio do seu Comitê Revolucionário Militar, preparou-se para defender Petrogrado contra o governo de coalizão de Kerensky e o possível ataque do General Kaledin e seus cossacos contrarrevolucionários. Em 22 de outubro, toda população proletária de Petrogrado, com o apoio solidário das tropas, manifestou-se por toda cidade contra o governo e a favor de Todo poder aos Sovietes. O Congresso dos Sovietes de todas as Rússias estava para abrir em 25 de outubro. O governo provisório, sabendo do iminente perigo à própria existência, apelou para uma ação drástica. Em 23 de outubro, o soviete de Petrogrado ordenou ao Gabinete de Kerensky a renunciar dentro de 48 horas. Levado ao desespero, Kerensky encarregou-se de suprimir a imprensa da revolução, prender os mais proeminentes revolucionários de Petrogrado, e remover os ativos Comissariados do Soviete. O governo contava com as “fiéis” tropas e a jovem nata dos estudantes das escolas militares. Mas era tarde demais: a tentativa de segurar o governo falhou. Durante a noite de 24 e 25 de outubro (6 e 7 de novembro) o governo de Kerensky foi dissolvido – pacificamente, sem derramamento de sangue – e a supremacia exclusiva dos sovietes foi estabelecida. O Partido Comunista ocupou o poder. Foi o auge político da Revolução Russa.
IV
Vários fatores contribuíram para o sucesso da revolução. Para começar, ela não encontrou nenhuma oposição ativa: a burguesia russa era desorganizada e fraca e sem disposição militante. Mas as principais razões consistem no envolvente entusiasmo com o qual os slogans revolucionários atiçaram todo povo. “Fora com a guerra!”, “Paz Já!”, “A terra para o camponês, a fábrica para o operário!”, “Todo poder aos Sovietes!” – esses eram expressão do grito da alma apaixonada e das necessidades mais profundas das grandes massas. Nenhum poder poderia conter seu maravilhoso efeito. Outro fator muito potente foi a união de vários elementos revolucionários em oposição ao governo de Kerensky. Bolchevistas, anarquistas, o Partido Socialista Revolucionário de esquerda, os numerosos políticos livres da prisão e do exílio siberiano e milhares de emigrantes revolucionários retornando, todos trabalharam durante os meses de fevereiro a outubro em direção a uma meta comum. Mas se “foi fácil começar” a revolução, como Lênin havia dito em um dos seus discursos, fomentá-la, levá-la ao termo de sua lógica conclusão foi outro e mais difícil assunto. Duas condições eram essenciais para tal consumação: união contínua de todas as forças revolucionárias e a aplicação da iniciativa voluntária do país e das melhores energias para o importante trabalho da nova construção social. Sempre deve ser lembrado, e bem lembrado, que a revolução não implica apenas destruição. Implica destruição mais construção, com grande ênfase no mais. Infelizmente, os métodos e princípios bolchevistas logo foram levados a se mostrarem um obstáculo, um atraso em relação às atividades criativas das massas. Os bolchevistas são marxistas. Embora nos dias de outubro eles tivessem aceitado e proclamado lemas anarquistas (ação direta pelo povo, expropriação, sovietes livres e assim por diante), não fora sua filosofia social que ditou esta atitude. Eles sentiram que a pulsação popular – as ondas elevadas da Revolução os levaram muito além de suas teorias. Mas eles permaneceram marxistas. De coração eles não tinham nenhuma fé no povo e em suas iniciativas criadoras. Como os socialdemocratas eles desconfiavam do campesinato, contando um pouco mais com o apoio da pequena minoria revolucionária entre os elementos da indústria. Eles defenderam a Assembleia Constituinte, e apenas quando se convenceram que não teriam maioria lá e, portanto, não seriam capazes de ter o poder de Estado em suas mãos, subitamente decidiram pela dissolução da Assembleia, embora este passo fosse uma refutação e negação de princípios marxistas fundamentais. (Incidentalmente, foi um anarquista, Anatoly Zheleznyakov, no comando da guarda do palácio, que se encarregou da iniciativa no assunto). Enquanto marxistas, os bolchevistas insistiram na nacionalização do país: propriedade, distribuição e controle passariam pelas mãos do Estado. Eram, em princípio, opostos à socialização, e apenas a pressão dos socialistas revolucionários de esquerda (a facção Spiridonova Kamkov), cuja influência entre os camponeses era tradicional, forçaram os Bolchevistas a “engolir o programa agrário do conjunto dos socialistas revolucionários”, como Lênin posteriormente colocou. Desde os primeiros dias de seu acesso ao poder político, as tendências marxistas começaram a se manifestar, em detrimento da Revolução. A desconfiança socialdemocrata em relação aos camponeses influenciou seus métodos e medidas. Nas Conferências de todas as Rússias os camponeses não receberam representação igual aos dos trabalhadores industriais. Não apenas os especuladores e exploradores das cidades, mas também toda população agrária foi estigmatizada pelos bolchevistas como “pequenos patrões” e “burgueses”, “incapazes de manter o passo com o proletariado no caminho para o socialismo”. O governo bolchevista colocou de lado os representantes camponeses nos Sovietes e na Conferência Nacional, buscaram obstruir seus esforços independentes e sistematicamente estreitaram o escopo e as atividades do Comissariado da Terra, até então de longe, o fator mais vital na reconstrução da Rússia. (O Comissariado era então presidido por um socialista revolucionário de esquerda). Inevitavelmente esta atitude levou a muita insatisfação por parte das grandes massas camponesas. O mujique russo é simples e ingênuo, mas com o instinto do homem primitivo, ele rapidamente percebe um erro e nenhuma requintada dialética pode movê-lo de sua convicção uma vez esta estabelecida. A pedra inaugural do credo marxista, a ditadura do proletariado, serviu como uma afronta e injúria ao campesinato. Eles demandaram uma partilha igual na organização e administração dos assuntos do país. Não tinham sido eles já suficientemente escravizados, oprimidos e ignorados? O camponês ressentia-se da ditadura do proletariado como discriminação contra ele. “Se a ditadura deve existir”, argumentava, “por que não a de todos que trabalham, do trabalhador urbano e do camponês, juntos?” Então veio a paz de Brest-Litovsk. Devido ao longo alcance de seus resultados, esta se mostrou ser o golpe mortal na Revolução. Dois meses antes, em dezembro de 1917, Trotsky recusara, com o gesto elegante de nobre indignação, a paz oferecida pela Alemanha em condições muito mais favoráveis à Rússia. “Nós não levamos adiante nenhuma guerra, nós não assinamos a paz” – tinha ele dito, e a Rússia revolucionária o aplaudiu. “Nenhum compromisso com o imperialismo alemão, nenhuma concessão”, ecoava por toda extensão do país, e o povo permaneceu pronto para defender a revolução até a morte. Mas agora, Lênin exigiu a ratificação de uma paz que significou a traição mais mesquinha em relação à maior parte da Rússia, da Finlândia, Letônia, Lituânia, Ucrânia, Rússia Branca, Bessarábia – todas elas ficaram para ser entregues à opressão e exploração do invasor alemão e de sua própria burguesia. Foi algo monstruoso – o sacrifício imediato dos princípios da revolução e também de seus interesses. Lênin insistiu na ratificação, alegando que a Rússia precisava de uma “pausa para respirar” que a Rússia estava exausta e que a paz poderia trazer o “oásis revolucionário” para reunir forças para novos esforços. Radek denunciou a aceitação das condições de Brest-Litovsk como traição da Revolução de Outubro. Trotsky discordou de Lênin. As forças revolucionárias racharam. Os socialistas revolucionários de esquerda, a maioria dos anarquistas, e muitos dos elementos revolucionários não partidários estavam amargamente contrários a fazer a paz com o imperialismo, especialmente nos termos ditados pela Alemanha. Declararam que tal paz seria fatal para a Revolução; que o princípio “paz sem anexações” não deveria ser sacrificado; que as condições alemãs envolviam a mais baixa traição aos operários e camponeses das províncias demandadas pelos prussianos; que a paz sujeitaria o conjunto da Rússia ao imperialismo alemão, que os invasores tomariam posse do pão ucraniano e do carvão de Don e levariam a Rússia à ruína econômica. Mas a influência de Lênin era potente. Ela prevaleceu. O tratado de Brest-Litovsk foi ratificado pelo 4º Congresso Soviético. Foi Trotsky o primeiro que afirmou, ao recusar os termos da paz alemã oferecidos em dezembro de 1917, que os operários e camponeses, inspirados e armados pela revolução, pela luta de guerrilhas, poderiam derrotar qualquer exército invasor. Os socialistas revolucionários de esquerda, agora chamados por levantes camponeses para se opor aos alemães, confiantes de que nenhum exército poderia conquistar o ardor revolucionário de um povo lutando pelos frutos de sua grandiosa revolução. Operários e camponeses reagiram ligeiro para ajudar Ucrânia e Rússia Branca, então valentemente, lutando contra o invasor alemão. Trotsky ordenou o Exército Russo a perseguir e eliminar estas unidades Seguiu-se o assassinato de Mirbach[5]. Foi o protesto e o enfrentamento do Partido Socialista Revolucionário de Esquerda contra o imperialismo prussiano dentro da Rússia. O governo bolchevista iniciou medidas repressivas e agora se sentia, e de fato estava devendo obrigações à Alemanha. Dzerzhinsky, chefe da Comissão Extraordinária de todas as Rússias[6], solicitou a entrega do terrorista. Foi uma situação única nos anais revolucionários: um partido revolucionário no poder exigindo de outro partido revolucionário, com o qual até então estiveram cooperando, a prisão e a punição de um revolucionário por executar o representante de um governo imperialista! A paz de Brest-Litovsk colocou os bolchevistas na posição anômala de gendarme do Kaiser. O Partido Socialista Revolucionário respondeu à demanda de Dzerzhinsky prendendo-o. Este ato e os conflitos armados que se seguiram (embora insignificantes em si) foram politicamente explorados a fundo pelos bolchevistas. Eles declararam que isso fora uma tentativa do Partido Socialista Revolucionário de tomar as rédeas do governo. Declararam aquele partido como fora da lei e o extermínio começou. Estes métodos e táticas bolchevistas não foram acidentais. Logo se tornou evidente que esmagar qualquer forma de expressão em desacordo com o governo é a política estabelecida pelo Estado Comunista. Depois da ratificação da paz de Brest-Litovsk, o Partido Socialista Revolucionário de Esquerda retirou seus representantes do Soviete dos Comissários do Povo. Assim, os bolchevistas permaneceram no controle exclusivo do governo. Sob um pretexto ou outro, se seguiu a mais arbitrária e cruel supressão de todos outros partidos e movimentos políticos. Os menchevistas e os socialistas revolucionários de direita já tinham sido liquidados há um tempo atrás, junto com a burguesia russa. Agora era a vez dos elementos revolucionários – o Partido Socialista Revolucionário de Esquerda, os anarquistas, os revolucionários não partidários. Mas a “liquidação” destes envolveu muito mais do que a supressão de pequenos grupos políticos. Esses elementos revolucionários têm fortes seguidores, os socialistas revolucionários de esquerda entre os camponeses, os anarquistas, principalmente, entre o proletariado urbano. As novas táticas bolchevistas incluem sistemática erradicação de cada sinal de insatisfação, sufocando toda crítica e esmagando esforço ou opinião independente. Com esta fase, os bolchevistas começam a ditadura do proletariado, como isso é popularmente caracterizado na Rússia. A atitude do governo em relação ao campesinato é agora de hostilidade aberta. Mais crescente ainda é o uso da violência. Sindicatos são dissolvidos, frequentemente pela força, quando a lealdade ao Partido Comunista é colocada sob suspeita. As cooperativas são atacadas. Esta organização especial, o vínculo fraterno entre cidade e campo, cujas funções econômicas são tão vitais para os interesses da Rússia e da Revolução, é obstruída em seu trabalho importante de produção, troca e distribuição dos bens essenciais da vida, é desorganizada, e por fim, completamente abolida. Prisões, buscas noturnas, zassada (bloqueio de casa), execuções, estavam na ordem do dia. A Comissão Extraordinária (Tcheka), originalmente organizada para combater contrarrevolucionários e a especulação, tem se tornado o terror de cada operário e camponês. Seus agentes secretos estão em toda parte, sempre desenterrando “tramas”, o que significa razstrel (disparos) contra milhares sem audiência, julgamento ou apelação. Da pretensa defesa da Revolução, a Tcheka se tornou a organização mais odiada, cuja injustiça e crueldade espalham terror sobre todo país. Toda poderosa, sem que ninguém se responsabilizasse por ela, a Tcheka é uma lei em si mesma, possui seu próprio exército, assume poderes de polícia, administrativos, judiciais e executivos e pratica suas próprias leis, as quais superam a do Estado oficial. As prisões e campos de concentração estão lotados com supostos contrarrevolucionários e especuladores, 95% deles são operários famintos, rudes camponeses e mesmo crianças de 10 a 14 anos (Veja “Relatórios das investigações sobre prisões”), Petrogrado: “Krasnaya Gazetta” e “Pravda”; Moscou: “Pravda”, maio, junho, julho, 1920). Na mente popular comunismo tornou-se “tchekismo”, este último o epítome de tudo que é vil e brutal. A semente do sentimento contrarrevolucionário semeou-se por toda parte. As outras políticas do “governo revolucionário” mantêm o passo junto com estes desdobramentos. A centralização mecânica, correndo sem limites, está paralisando as atividades industriais e econômicas do país. Franze-se a testa em relação às iniciativas, os esforços livres são sistematicamente desencorajados. As grandes massas estão privadas da oportunidade de forjar as políticas da revolução, ou tomar parte da administração dos assuntos do país. O governo está monopolizando cada caminho da vida: a revolução se encontra divorciada do povo. A máquina burocrática é criada de modo pavoroso em seu parasitismo, ineficiência e corrupção. Apenas em Moscou esta nova classe de sovburs (burocratas soviéticos) excede, em 1920, o total dos funcionários por toda Rússia no tempo do Czar, em 1914 (Ver “Relatório Oficial de Investigação”, pelo Comitê do Soviete de Moscou, 1921). As políticas econômicas bolchevistas, efetivamente auxiliadas por esta burocracia, desorganizaram completamente a já capenga vida industrial do país. Lênin, Zinoviev e outros líderes comunistas vociferam diatribes contra a nova burguesia soviética, e distribuem sempre novos decretos que fortalecem e aumentam seus números e influência. O sistema de yedinolitchiye – a administração por uma pessoa – é introduzido. O próprio Lênin é o seu criador e o principal defensor. De agora em diante, os comitês das lojas e das fábricas estão para ser abolidos, alijados de todo poder. Cada moinho, mina e fábrica, as ferrovias e todas outras indústrias estão para ser gerenciadas por uma única cabeça, por um “especialista”, e a velha burguesia czarista está convidada a entrar. Os antigos banqueiros, os operadores da bolsa, os proprietários de moinhos e os patrões das fábricas tornam-se os administradores, com pleno controle das indústrias, com poder absoluto sobre os trabalhadores. Eles são revestidos com autoridade a contratar, empregar e demitir as “mãos”, a dar ou privá-las do payok (ração de alimento), e mesmo a puni-las e encaminhá-las à Tcheka. Os trabalhadores, que lutaram e sangraram pela revolução e estiveram dispostos a sofrer, congelar e passar fome em sua defesa, se ressentem dessa obscura imposição. Consideram isso como a pior traição. Recusam a ser dominados pelos mesmos proprietários e capatazes que eles expulsaram, nos dias da revolução, para fora das fábricas e que tinham sido tão autoritários e brutais para com eles. Não têm nenhum interesse em tal reconstrução. O “novo sistema”, proclamado por Lênin como a salvação das indústrias, resulta na completa paralisia da vida econômica da Rússia, empurra em massa os operários para fora das fábricas, e os enche de amargura e ódio a tudo “socialístico”. Os princípios e táticas da mecanização marxista da Revolução estão assinando sua ruína. O fanático delírio de que um pequeno grupo conspirativo, como este o foi, poderia empreender uma transformação social fundamental resultou no Frankenstein dos bolchevistas. Levou-os às incríveis profundezas da infâmia e barbarismo. Os métodos de tal teoria, seus meios inevitáveis, são duplos: decretos e terror. Nenhum desses meios os bolchevistas regatearam. Como Bukharin, o principal ideólogo comunista militante, ensinou, o terrorismo é o método pelo qual a natureza humana capitalista será transformada em adequada cidadania bolchevista. Liberdade é um “preconceito burguês” (na expressão favorita de Lênin), liberdade de fala e de imprensa é desnecessária, perigosa. O governo central é o depositário de todo conhecimento e sabedoria. Fará tudo. O único dever do cidadão é a obediência. A vontade do Estado é suprema. Despojada de frases refinadas, destinadas ao consumo ocidental, esta foi, e ainda é, a atitude prática do governo bolchevista. Este governo, o real e único governo da Rússia, consiste em cinco pessoas, membros do círculo interno do Comitê Central do Partido Comunista da Rússia. Esses “cinco grandes” são onipotentes. Este grupo, conspiratório em sua verdadeira essência, tem controlado os destinos da Rússia e da Revolução desde a paz de Brest-Litovsk. O que aconteceu na Rússia, desde então, tem sido em estrito acordo com a interpretação bolchevista do marxismo. Aquele marxismo, refletido através da megalomania de onisciência e onipotência do círculo interno comunista, ocasionou a presente ruína da Rússia. Em consonância com essa teoria, os fundamentos da Revolução de Outubro têm sido deliberadamente destruídos. O objetivo final sendo um poderoso Estado centralizado com o Partido Comunista no controle absoluto fez com que a iniciativa popular e as forças criativas revolucionárias das massas precisassem ser eliminadas. O sistema eleitoral foi abolido, primeiro no exército e na marinha, depois nas indústrias. Os sovietes dos camponeses e operários foram castrados e transformados em obedientes comitês comunistas, com a temível espada da Tcheka sempre pendurada sobre eles. A direção dos sindicatos achacada, suas atividades específicas suprimidas, assim estes se tornaram meros transmissores das ordens do Estado. Serviço militar obrigatório, acoplado com pena de morte para os objetores de consciência; trabalho forçado, com um vasto corpo de funcionários para a apreensão e punição de “desertores”; conscrição agrária e industrial do campesinato; comunismo militar nas cidades e o sistema de requisição no campo, caracterizado por Radek como simplesmente pilhagem de grãos (Correspondência da Imprensa Internacional, edição inglesa, vol. 1, nº 17); a supressão dos protestos dos trabalhadores pelos militares, o esmagamento com mão de ferro da insatisfação dos camponeses, chegando até ao açoitamento destes e ao arrasamento de suas aldeias com artilharia (nos distritos de Ural, Volga e Kuban, na Sibéria e na Ucrânia) – isso caracteriza a atitude do Estado comunista em relação ao povo, isso engloba “as políticas construtivas socioeconômicas” dos bolchevistas. Apesar de tudo, os operários e camponeses russos, prezando a Revolução pela qual sofreram tanto, mantiveram-se lutando bravamente em numerosas frentes militares. Estavam defendendo a revolução, assim pensavam. Passaram fome e frio e morreram aos milhares, na profunda esperança de que as coisas terríveis que os comunistas faziam cessariam em breve. Os horrores bolchevistas foram, de algum modo – o russo simples pensava – o resultado inevitável de poderosos inimigos “do estrangeiro” atacando seu amado país. Mas quando as guerras, por fim, acabassem – o povo ingenuamente assim reproduziu a imprensa oficial – os bolchevistas seguramente voltariam à trilha revolucionária na qual entraram em outubro de 1917, a trilha que as guerras os forçaram a abandonar temporariamente. As massas assim esperavam e aguentaram. E então, enfim, as guerras terminaram. A Rússia esboçou um quase audível suspiro de alívio, alívio vibrando com profunda esperança. Foi o momento crucial: o grande teste começara. A alma de uma nação estava em agitação. Ser ou não ser? E então, a plena realização chegou. O povo permaneceu horrorizado. As repressões continuaram, crescendo de modo ainda pior. As usurpadoras razvyorstka[7], expedições punitivas contra os camponeses, não cessaram sua atividade assassina. A Tcheka estava desencavando mais “conspirações”, execuções estavam ocorrendo como antes. O terrorismo estava desenfreado. A nova burguesia bolchevista agia com arrogância em relação aos operários e camponeses, a corrupção oficial grassava solta, imensos estoques de alimentos apodreciam em virtude da ineficiência bolchevista e do monopólio centralizado do Estado – o povo estava faminto. Os operários de Petrogrado, sempre proeminentes no esforço revolucionário, foram os primeiros a dar voz a seu descontentamento e protesto. Os marinheiros de Kronstadt, com base na investigação das demandas do proletariado de Petrogrado, declararam-se solidários aos trabalhadores. Por sua vez, anunciaram seu apoio a sovietes livres, sovietes livres da coerção comunista, sovietes que realmente representassem as massas revolucionárias e dessem voz a suas necessidades. Nas províncias centrais da Rússia, na Ucrânia, no Cáucaso, na Sibéria, em toda parte o povo fez conhecer sua vontade, expressou suas reclamações, informou os governos acerca de suas reivindicações. O Estado bolchevista respondeu com seu argumento usual: os marinheiros de Kronstadt foram dizimados, os “bandidos” da Ucrânia massacrados, os “rebeldes” do Leste abatidos com metralhadoras. Isso feito, Lênin anunciou no X Congresso do Partido Comunista da Rússia (março 1921) que suas políticas anteriores estavam todas erradas. A requisição de alimento, razvyorstka, foi pura roubalheira. A violência militar contra o camponês um “sério equívoco”. Os trabalhadores precisam receber alguma consideração. A burocracia soviética é corrupta e criminosa, um enorme parasita. “Os métodos que vínhamos usando falharam. O povo, especialmente a população rural, não está ainda à altura dos princípios comunistas. A propriedade privada deve ser reintroduzida, o livre comércio estabelecido. Daí, o melhor comunista ser aquele que pode impulsionar a melhor barganha”. Expressão de Lênin.
V
De volta ao capitalismo! A situação atual da Rússia é por demais anômala. Economicamente é uma combinação de Estado e capitalismo privado. Politicamente permanece a “ditadura do proletariado” ou, mais corretamente, a ditadura do círculo interno do Partido Comunista. O campesinato forçou os bolchevistas a fazerem concessões. Requisições forçadas foram abolidas. Em seu lugar foi colocada a taxa em espécie, uma certa percentagem do produto agrícola indo para o governo. A livre troca foi legalizada e o agricultor passou a trocar ou vender seu excedente para o governo, para as cooperativas restabelecidas ou no mercado aberto. A nova política econômica escancarou as portas da exploração. Sancionou o direito de enriquecimento e de acumulação de riquezas. O lavrador passou a lucrar com suas bem-sucedidas colheitas, arrendar mais terra e explorar o trabalho daqueles camponeses que têm pouca terra e nenhum cavalo para o trabalho. A escassez de gado e ceifas ruins em algumas partes do país criaram uma nova classe de “mão de obra agrícola” que se oferece ao camponês próspero. As pessoas pobres migram das regiões em que estão sofrendo de fome e engrossam as fileiras dos miseráveis. A aldeia capitalista está se fazendo. O trabalhador urbano na Rússia hoje, sob a nova política econômica, está exatamente na mesma posição como em qualquer outro país capitalista. A distribuição gratuita de comida está abolida, exceto em algumas indústrias operadas pelo governo. Ao trabalhador são pagos salários, e estes devem cobrir suas necessidades, como em qualquer outro país. A maioria das indústrias, onde estejam ativas, tem sido deixada ou arrendada para particulares. O pequeno capitalista agora tem a mão livre. Ele tem um largo campo para suas atividades. O excedente do lavrador, o produto das indústrias, do comércio camponês e todos os empreendimentos da propriedade privada estão sujeitos aos processos ordinários de negócios, podem ser comprados e vendidos. A competição dentro do comércio varejista leva à incorporação e à acumulação de fortunas nas mãos de indivíduos. O desenvolvimento do capitalismo urbano não pode coexistir por muito tempo com a ditadura do proletariado. A aliança artificial entre este e o capitalismo estrangeiro provará em futuro próximo outro fator vital no destino da Rússia. O governo bolchevista ainda se esforça em sustentar a perigosa ilusão de que a “revolução está progredindo”, que a Rússia é “governada pelos sovietes proletários”, que o Partido Comunista e seu Estado são idênticos ao povo. Ainda estão falando em nome do “proletariado”. Estão buscando dopar o povo com uma nova quimera. Depois de algum tempo – os bolchevistas agora simulam – quando a Rússia tiver se tornado industrialmente ressuscitada, através das realizações de nosso veloz capitalismo crescente, a “ditadura do proletariado” terá também se fortalecido, e retornaremos à nacionalização. Então, o Estado abreviará e suplantará sistematicamente as indústrias privadas e assim quebrará o poder da burguesia desenvolvida neste ínterim. “Depois de um período de desnacionalização parcial, uma nacionalização mais forte começa”, diz Preobrazhensky, Comissário das Finanças, em seu recente artigo “As perspectivas da Nova Política Econômica”. Então, “o socialismo será vitorioso na linha de frente inteira”. Radek é menos diplomático. “Certamente nós não pretendemos” – ele nos assegura na sua análise política da situação russa, intitulada “É a Revolução Russa uma Revolução Burguesa?” (Correspondência da Imprensa Internacional, 16 dez.1921) – “que ao final de um ano nós tenhamos confiscado os bens novamente acumulados. Nossa política econômica é baseada em um período mais longo de tempo… Estamos conscientemente nos preparando para cooperar com a burguesia; isso é, sem dúvida, perigoso para a existência do governo soviético, porque este último perde o monopólio da produção industrial em contraste com o campesinato. Isso não significa a vitória decisiva do capitalismo? Não devíamos então falar de nossa revolução como tendo perdido seu caráter revolucionário?” A estas questões tão oportunas e significativas, Radek responde animadamente com um categórico Não! É verdade, obviamente, como Marx ensinou, que as relações econômicas determinam as políticas, e que as concessões econômicas à burguesia devem acarretar também concessões políticas. Ele lembra que quando a poderosa classe latifundiária da Rússia começou a fazer concessões econômicas à burguesia, tais concessões foram logo seguidas pelas políticas e finalmente pela capitulação dos latifundiários. Mas ele insiste que os bolchevistas manterão seu poder mesmo sob as condições da restauração do capitalismo. “A burguesia é uma classe moribunda, historicamente deteriorada… Por este motivo a classe trabalhadora da Rússia pode se recusar a fazer concessões políticas à burguesia; desde que isso se justifique na expectativa de que seu poder crescerá em uma escala nacional e internacional mais do que o poder da burguesia russa”. Nesse meio tempo, embora fora autoritariamente admitido que seu “poder deverá crescer em escala nacional e internacional”, o trabalhador russo está em apuros. A nova política econômica transformou o proletário “ditador” em um escravo assalariado comum, como seus irmãos em países não abençoados pela ditadura socialista. A redução do monopólio nacional do governo resultou no lançamento de centenas de milhares de homens e mulheres para fora do trabalho. Muitas instituições soviéticas foram fechadas, as restantes dispensaram 50 a 70 por cento de seus empregados. O enorme afluxo para as cidades de camponeses e aldeões arruinados pela razvyorstka, e daqueles foragidos de distritos de fome, produziram um problema de desemprego de alcance ameaçador. O reavivamento da vida industrial pelo capital privado é um processo muito lento, devido à ausência geral de confiança no Estado bolchevista e em suas promessas. No entanto, quando as indústrias voltarem a funcionar, mais ou menos sistematicamente, a Rússia enfrentará uma situação trabalhista muito difícil e complexa. Os sindicatos e grêmios de trabalhadores não existem na Rússia, assim como as atividades legítimas relativas a tais organizações. Os bolchevistas os aboliram tempos atrás. Com o desenvolvimento da produção e do capitalismo, governamental tanto quanto privado, a Rússia verá o surgimento de um novo proletariado cujos interesses naturalmente deverão entrar em conflito com aqueles da classe empregadora. Uma luta amarga é iminente. Uma luta de dupla natureza: contra o capitalista privado e contra o Estado enquanto empregador de trabalho. É mesmo provável que a situação deva ainda desenvolver outra fase: o antagonismo dos trabalhadores empregados nas indústrias pertencentes ao Estado em relação aos trabalhadores melhor pagos pelas empresas privadas. Qual será a atitude do governo bolchevista? O assunto da nova política econômica é encorajar, em cada via possível, o desenvolvimento do empreendimento privado e acelerar o crescimento do industrialismo. Lojas, minas, fábricas e moinhos têm sido já arrendados aos capitalistas. As demandas trabalhistas têm a tendência de cortar lucros, interferem como os “obedientes processos” do negócio. E quanto às greves, elas limitam a produção, paralisam a indústria. Não deveriam os interesses do Capital e do Trabalho ser declarados solidários na Rússia bolchevista? A exploração econômica e agrária da Rússia, sob a nova política econômica, deve inevitavelmente levar ao crescimento de um poderoso movimento trabalhista. As organizações dos operários unificarão e solidificarão o proletariado urbano com o agricultor pobre, na demanda comum por melhores condições de vida. A partir do temperamento atual do trabalhador russo, agora enriquecido por quatro anos de experiência do regime bolchevista, pode-se afirmar com alto grau de probabilidade que o futuro movimento trabalhista da Rússia se desenvolverá por linhas sindicalistas. O sentimento é forte entre os trabalhadores russos. Os princípios e métodos do sindicalismo revolucionário não lhes são estranhos. O trabalho efetivo dos comitês de fábrica e lojas, os primeiros que iniciaram a expropriação industrial da burguesia em 1917, é uma lembrança inspiradora ainda fresca nas mentes do proletariado. Mesmo no próprio Partido Comunista, entre seus elementos operários, a ideia sindicalista é popular. A famosa Oposição Trabalhista, liderada por Shliapnikov e Sra. Kollontay dentro do Partido, é essencialmente sindicalista. Qual atitude o governo bolchevista tomará em relação ao movimento trabalhista em vias de aparecer na Rússia, seja este total ou apenas parcialmente sindicalista? Até agora o Estado tem sido inimigo mortal do sindicalismo trabalhista dentro da Rússia, embora encorajem-no em outros países. No X Congresso do Partido Comunista Russo, em março de 1921, Lênin declarou guerra sem trégua contra o mais tênue sintoma de tendências sindicalistas, e mesmo discussões de teorias sindicalistas foram proibidas aos Comunistas, sob pena de exclusão do Partido (Ver Relatório Oficial, X Congresso). Alguns da Oposição Trabalhista foram presos. Não se pode afirmar superficialmente que a ditadura comunista possa resolver satisfatoriamente os problemas difíceis a surgirem de um efetivo movimento trabalhista baixo à autocracia bolchevista. Daí, os trabalhadores da Rússia deverão lutar não apenas contra os grandes e pequenos capitalistas. Eles irão de fato se enfrentar com o próprio Estado capitalista. Para se entender corretamente o espírito e o caráter desta presente fase bolchevista, é necessário se dar conta de que a assim chamada “nova política econômica” não é nem nova nem econômica, se consideradas literalmente. É o velho marxismo político, a única fonte originária da sabedoria bolchevista. Enquanto sociais-democratas, os bolchevistas permaneceram fiéis à sua bíblia. Apenas em um país onde o capitalismo é mais altamente desenvolvido pode contar com uma revolução social, que é o ápice da fé marxista. Os bolchevistas estão a ponto de aplicar isso na Rússia. Verdade foi que nos dias da revolução de outubro eles repetidamente desviaram do caminho reto e estreito de Marx. Não porque duvidaram do profeta. De jeito nenhum. Até certo ponto Lênin e seu grupo, políticos oportunistas, foram forçados pela irresistível aspiração popular a conduzir um verdadeiro percurso revolucionário. Mas todo o tempo eles se penduravam nas saias de Marx e buscavam a cada oportunidade direcionar a revolução para canais marxistas. Como Radek ingenuamente nos lembra: “já em abril de 1918, em um discurso do camarada Lênin, o governo soviético intentou definir novas tarefas e apontar o caminho o qual hoje designamos como a nova política econômica” (Correspondência da Imprensa Internacional, vol 1, nº 17). Significativa confissão! Na verdade, as atuais políticas bolchevistas são a continuação do bom marxismo ortodoxo de 1918. Líderes bolchevistas agora admitem que a revolução, nos desenvolvimentos pós-outubro, foi apenas política e não social. A centralização mecânica do Estado comunista – isso deve ser enfatizado – provou-se fatal à vida econômica e social do país. A violenta ditadura partidária destruiu a unidade dos trabalhadores e dos camponeses, e criou uma pervertida atitude burocrática em relação à reconstrução revolucionária. A completa negação da livre expressão e crítica, não apenas às massas, mas mesmo para o nível e escala do próprio Partido Comunista, resultou em sua ruína através de seus próprios erros. E agora? O marxismo bolchevista, em sua monstruosidade criminosa, continua na pobre Rússia a prolongar sua sangrenta Comédia de Erros. A construção do comunismo não é possível conjugado a um capitalismo doentio, desenvolvido artificialmente. O capitalismo não pode nunca ser destruído – como Lênin & Cia presumem acreditar – pelos processos regulares do Estado bolchevista crescido economicamente forte. As “novas” políticas são portanto uma ilusão e uma cilada. Estas acabaram criando a necessidade de outra revolução. É imprescindível que a torturada humanidade trilhe sempre o mesmo círculo vicioso? Ou, finalmente, os trabalhadores aprenderão a grande lição da Revolução Russa? A de que qualquer governo, qualquer que seja o nome e as doces promessas, em virtude de sua natureza intrínseca, é destrutivo dos genuínos propósitos da revolução social. É missão do governo governar, sujeitar, fortalecer-se e se perpetuar. É urgente que os trabalhadores aprendam que apenas os seus próprios esforços criativos, livres da interferência da Política e do Estado, podem fazer de sua constante luta pela emancipação um sucesso duradouro.
Notas:
[1] – Ananias, personagem bíblico, aqui com o sentido de um mentiroso habitual.
[2] – Thomas Mooney (1888-1942) foi líder operário norte-americano, acusado injustamente de colocar bombas em uma parada de preparação para entrada dos EUA na I Guerra, em 1916. Alexander Berkman empenhou-se em campanhas para sua libertação, e conseguiu ao menos que a pena de morte fosse suspensa. Posteriormente, devido à sua atuação em movimentos contra a guerra, Berkman foi preso, passou dois anos em um presídio em Atlanta e foi deportado para a Rússia, em 1919.
[3] – “Santo dos santos” é o nome do local mais sagrado dentro do antigo templo de Jerusalém.
[4] – Coup de main, ataque militar realizado por um único golpe com base em surpresa e velocidade.
[5] – Conde Mirbach. Embaixador alemão em Moscou; participou das negociações de paz em Brest-Litovsk. Foi assassinado, em julho de 1918, por um membro do Partido Socialista Revolucionário que discordava dos termos deste tratado de paz com a Alemanha.
[6] – Tcheka. Nome abreviado da Comissão Extraordinária panrussa para a repressão da contrarrevolução e da sabotagem, polícia secreta criada em 1917 para combater os inimigos do governo revolucionário.
[7] – Razvyorstka, programa do governo que obrigava o agricultor a entregar o excedente de sua produção a um preço fixo.
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