Em todos os cantos do mundo se estende a carnificina imperialista do capitalismo. Das matanças de palestinos no Oriente Médio às campanhas de intervenção militar no Haiti, da guerra na Ucrânia aos bombardeios no Iêmen, milhares de vidas são ceifadas pelo capitalismo em decomposição. Um rastro de miséria e destruição assola os explorados e oprimidos de cada região. Tudo isso é multiplicado pela crise climática e econômica que ameaça destruir as condições da vida humana no planeta, além de provocar a sexta grande extinção de espécies mundial. A situação é insuportável e intolerável em todos os sentidos!
A tendência histórica do capitalismo em sua crise do limite interno absoluto é a produção de meios de destruição que culminam na guerra inter-imperialista e no colapso climático. A guerra comercial entre EUA e China divide o mundo em blocos capitalistas beligerantes que ameaçam se colidir num conflito iminente. A classe proletária é escamoteada em cada uma das subdivisões capitalistas, enquadrada nas fileiras desse ou daquele interesse burguês em disputa. Somos empurrados para a situação de trucidação mútua, cuja única saída é a constituição de uma força revolucionária que busque afirmar nossos próprios interesses e necessidades contra a decomposição capitalista.
É provável que o detonador da guerra seja Taiwan. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSCM) é a maior produtora de semicondutores do mundo e os EUA já impuseram uma série de bloqueios econômicos que limitaram o acesso à chips pelos chineses. Em julho, a China respondeu com um sistema de licenças para exportação de Gálio e Germânio, dois elementos utilizados na fabricação de chips de computador, fibras ópticas, células solares e outros dispositivos. No final de agosto, o governo dos EUA aprovou um Financiamento Militar Estrangeiro para Taiwan. Em setembro, o governo chinês anunciou um plano de integração econômica em Taiwan ao mesmo tempo que deslocava contingentes militares para o entorno da ilha. A guerra comercial anda junto com tensões militares cada vez maiores. As chances do conflito imperialista surgir do desfecho dessa disputa são grandes.
Enquanto não impormos nosso próprio programa, a guerra imperialista se desenvolverá a passos largos. Assim, na região do continente africano, em julho deste ano um golpe militar derrubou o presidente lacaio do imperialismo francês no país de Níger. Esse golpe veio na esteira dos golpes de Mali e Burkina Faso nos últimos dois anos, onde as forças militares dos países africanos expulsaram as tropas francesas e clamaram pelo apoio da Rússia. Níger é o maior fornecedor de urânio para a França que possui 70% de sua eletricidade vinculada à energia nuclear. Nesse caso, a burguesia francesa está cada vez mais preparada para uma intervenção militar coordenada pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), subordinada aos interesses imperialistas (França-UE e EUA). Por outro lado, em São Petersburgo se realizou a Cúpula entre a Rússia e a União Africana, selando a composição africana do bloco Rússia-China da guerra imperialista que se aproxima.
No leste europeu, o nível de destruição diária alcançado na guerra ucraniana é mais alto do que a capacidade da OTAN e dos EUA de sustentar com sua indústria militar. Assim, a Alemanha, a Grã-Bretanha e a Turquia vão abrir fábricas de armas em solo ucraniano, intensificando o conflito para um passo mais perto de uma guerra aberta e total. Por sua vez, a Rússia não apenas se reorganizou como uma grande fábrica de armas para acompanhar o ritmo dos seus rivais imperialistas, como também está pela primeira vez à procura de fornecedores internacionais e passa a receber apoio bélico da Coreia do Norte.
Nessa situação de acirramento das disputas imperialistas, nos deparamos com um aumento significativo na brutalidade das ofensivas israelenses. O Estado sionista de Israel e seu regime de apartheid contra os palestinos exerce uma opressão brutal desde que iniciaram as espoliações das terras palestinas. Israel recebe apoio e cobertura dos EUA devido a seus interesses imperialistas no Oriente Médio que atualmente está promovendo um acordo comercial entre a burguesia saudita e israelense para isolar os países árabes na guerra comercial com a China. Os países árabes se colocam passivos diante da dominação que recai sobre eles, uma vez que nenhuma burguesia nacional representa verdadeira oposição ao imperialismo. Nada muito diferente sucede com o Hamas que sequer tem condições militares para enfrentar Israel, além de que seu programa não oferece como saída uma libertação real. Os trabalhadores palestinos em situação de extrema precariedade da Faixa de Gaza não possuem um esconderijo (bunker) para se protegerem dos bombardeios. Geralmente famílias inteiras moram espremidas em pequenos espaços que, em caso de ataques militares, correm o risco de morrer e/ou ficarem feridas em sua totalidade. Enquanto isso, vários dirigentes do Hamas podem contar com o acesso a bunkers subterrâneos profundos, conectados a uma rede de túneis no Egito que possibilita uma saída de refúgio em caso de ofensivas de Israel. Portanto, nenhuma alternativa “diplomática”, “democrática”, “humanitária”, etc. será efetiva, assim como é ilusória a constituição de um Estado independente Palestino. Não há saída dentro do ordenamento político e social do capital.
A investida do capital imperialista tende a se intensificar em todas as regiões. Assim, para promover os interesses estadunidenses que mantêm o governo fantoche de Ariel Henry no Haiti, o governo brasileiro votou a favor do envio de forças policiais para uma intervenção no território haitiano, sendo o responsável pelo fornecimento de treinamento para a Polícia Nacional Haitiana (PNH). Essa intervenção militar visa restabelecer a capacidade de pacificação social do Estado haitiano, numa situação instável provocada pelas revoltas dos trabalhadores haitianos que estão há anos se insurgindo, através de greves e manifestações, contra as condições de vida cada vez mais precárias pelo desemprego, a fome, a repressão e a pobreza, além da luta contra medidas de austeridade do FMI e do Banco Mundial.
No bojo desse processo, o território haitiano será usado mais uma vez como campo de testes de técnicas e equipamentos pelos militares brasileiros, transpondo a experiência das favelas haitianas para as brasileiras e vice-versa. Desde o primeiro governo Lula, as forças repressivas brasileiras estiveram ativamente no comando de uma enorme operação de invasão ao Haiti conhecida como MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti), que perdurou por todos os governos petistas e encerrou apenas em 2017, visando impor a pacificação da população haitiana diante de suas condições miseráveis de vida, fortalecendo o Estado haitiano, sua polícia e supostamente combatendo a grupos rebeldes armados, que nada mais é do que uma desculpa para assassinar a população, assim como faz a polícia nas favelas brasileiras.
O resultado dessa intervenção foram mortes, diversos casos de estupro pelos “pacificadores” e nenhuma mudança efetiva nas condições de vida: o desemprego continuou, a fome perdurou e a pobreza também. Os resultados dessa operação para nossa classe não pararam apenas no “exterior”, mas influíram diretamente nas politicas daqui: através dos ensinamentos provenientes das operações em favelas haitianas é que foram instaladas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em 2008 e um novo acordo de cooperação foi firmado em 2013 entre o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e a PNH para troca de pontos fortes na repressão das favelas haitianas e na política das UPPs. Essa notícia é mais odiosa ainda quando consideramos o cenário de intensificação das chacinas ocorrendo nas favelas brasileiras atualmente, para o qual o governo petista não cessa o financiamento.
A ligação do Estado brasileiro com a chacina das frações mais marginalizadas de nossa classe, contudo, não para aí, já que o Brasil é um dos principais compradores de tecnologia e treinamento militar israelense, frutos das matanças promovidas por este na Palestina. Dessa forma, a burguesia brasileira e seu Estado assimilam os conhecimentos sintetizados pelas experiências israelenses em seu “laboratório” e realiza ela mesma novas experiências em seu “laboratório” haitiano, de modo a reforçá-las ainda mais. As forças repressivas da classe dominante estão bem articuladas, é inegável a conexão estabelecida entre os diversos Estados e burguesias de diferentes nacionalidades para a repressão de nossa classe internacionalmente.
Aqui emerge um ponto de união de nossa luta com a dos trabalhadores palestinos, haitianos, israelenses, quenianos, em suma de todos os países que participam dessa carnificina, contra a aniquilação física e psicológica de nossos irmãos. Se aqui a matança se fortalece cada vez mais e a repressão fica cada vez mais forte, é graças à continuidade dessas “experiências” na Palestina e no Haiti.
A centralização desses aparatos pelas potências imperialistas demonstra como as burguesias de países subordinados estão plenamente associadas às burguesias hegemônicas. O imperialismo é intrínseco ao modo de produção capitalista mundial, portanto é impossível enfrentar realmente esses massacres através de ilusões nacionais que buscam subordinar a classe proletária à uma das distintas frações do capital (seja a burguesia nacional local ou a transnacional e suas ingerências externas, seja através do desenvolvimentismo progressista, seja por meio do nacionalismo conservador).
Para evitar que nossa situação piore globalmente, através de novos ensinamentos frutos do sangue haitiano e palestino, em suma, para nos unirmos em luta contra nossos algozes exploradores, precisamos organizar a luta em nosso território, enfrentando o “nosso” Estado e a “nossa” burguesia. Convocamos a realização de manifestações em frente aos escritórios e sedes da ONU e dos EUA no Brasil, promovendo o fim do genocídio e apartheid israelense, assim como a recusa total de uma nova invasão no Haiti. É necessário construir um amplo movimento de luta, organizado de forma autônoma em prol dos interesses proletários e através da ação direta, paralisando a produção, bloqueando estradas, incitando a revolta entre a base do exército brasileiro de origem trabalhadora que negue a cooperação em operações de extermínio pacificadoras da ONU!
A autodeterminação da classe proletária unificada é a única força capaz de se insurgir contra as disputas imperialistas do capital! Nenhuma guerra senão a guerra de classe!
Pelo fim da intervenção no Haiti e da guerra na Palestina! Os executores dos massacres devem ser punidos!
Realizemos uma luta internacional contra nossos algozes que já se organizam internacionalmente, lutemos contra a “nossa” burguesia e o “nosso” Estado!
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