sábado, 29 de outubro de 2022

Chamado à luta antirracista do proletariado contra a Rede de Farmácias São João

Ação direta realizada em resposta ao racismo capitalista praticado por seguranças da loja São João em Porto Alegre (RS).

No dia 22 de outubro de 2022, uma situação de racismo ocorreu em uma loja da rede de farmácias São João na Zona Leste de Porto Alegre (mais especificamente: na Avenida Bento Gonçalves, no bairro Paternon). O caso acabou sendo registrado por uma pessoa que gravou um vídeo que passou a circular pela internet (veja abaixo o vídeo). Neste vídeo podemos observar uma agressão contra uma mulher negra no estabelecimento da farmácia. Ela estava intercedendo contra os abusos dos seguranças que mantinham três jovens (também negros) presos no local sob falsa suspeita de furto.


Os três adolescentes negros estavam sendo acusados de furto de preservativos pelos funcionários da loja e, mesmo após não encontrarem nada com os meninos durante a revista, os seguranças da farmácia não os deixaram sair. É nesse momento que a cliente que grava o vídeo intervém em defesa deles, bem como mulher que é agredida com uma rasteira por um dos seguranças e tem sua perna quebrada (para mais informações, veja-se essa notícia da RDC TV: link).

Apesar do registro audiovisual, a Rede de Farmácias São João se manifestou em nota alegando que as agressões são justificáveis devido a uma tentativa de furto (uma falsificação total do ocorrido para encobertar o racismo praticado no estabelecimento).

Essa prática de distorção e falsificação dos fatos é recorrente e conhecemos bem ela. Por exemplo: quando a polícia militar busca justificar um salvo conduto das suas carnificinas (que incluem matanças, torturas, etc.), geralmente alegam-se coisas do tipo “havia suspeita de furto”, “havia suspeita de posse de arma”, etc. Em certos casos, a polícia costuma pegar a mochila dos chamados “elementos suspeitos” para colocar alguma arma que trazem consigo para criminalizar, afirmando que “o jovem tinha posse de arma ilegal”. Quanto mais o público é levado a acreditar nessas mentiras, mais facilmente se perpetuam os massacres e discriminações de todo o tipo. Portanto, podemos legitimamente levantar a seguinte hipótese: será que a narrativa do suposto “furto de preservativo” não tinha esse mesmo objetivo? O que teriam feito com aqueles adolescentes se ninguém tivessem feito nada? Lembremos do caso do Carrefour (situação que descrevemos em detalhes em nossas publicações, por isso sugerimos abrir o link que anexamos)… Em suma, há de se reconhecer a coragem dessas mulheres, negras e proletárias, que enfrentaram os abusos do sistema sem recuar!

De acordo com o advogado que está representando os três adolescentes, as famílias dos garotos foram até o DECA (Departamento Estadual da Criança e do Adolescente) para registrar boletim de ocorrência, mas foram informados de que deveriam voltar outro dia porque a delegacia estava cheia (uma forma de constrangê-los a sequer recorrerem diante da discriminação evidente). Enquanto isso, os funcionários da farmácia, mesmo sem prova alguma, registraram uma ocorrência no local e no mesmo dia! Um absurdo que só deixa escancarado a brutalidade do sistema contra pessoas negras e proletárias (bem como a parcialidade da justiça burguesa)!

Perante essas iniquidades do sistema capitalista, somente uma revolta incendiária é capaz de fazer o devido justiçamento diante de tantas vidas proletárias brutalizadas. É com esse espírito que também saudamos a ação direta exemplar realizada na noite daquele mesmo dia, conforme podemos observar abaixo na publicação do Twitter que incorporamos em nossa publicação:


Somente a ação direta, a iniciativa combativa e autônoma da classe proletária, pode lutar efetivamente contra as opressões e discriminações historicamente endógenas ao capitalismo. O Estado não passa da organização política do poder dominante da classe capitalista e sempre vai intervir a favor das empresas, em suma: da propriedade privada. Os boicotes também não são ferramentas próprias da luta proletária, pois são meros instrumentos da concorrência fazer pressão nos preços e ainda favorecer tantas outras empresas que igualmente partilham da mesma conduta sistêmica da economia mercantil.

É nesse sentido que será fundamental o ato marcado às 16 horas do dia 29 de outubro, em frente ao mesmo estabelecimento da São João (Av. Bento Gonçalves, nº 2255), onde estaremos nos colocando na luta diretamente.

Divulgação do “Ato Antirracista” contra a Rede de Farmácias São João.

Antes de enunciarmos nosso posicionamento, convém relembrar outro caso dessa mesma rede de farmácias onde poderemos compreender melhor como as empresas conseguem se safar de serem responsabilizadas por suas discriminações usando inclusive um “discurso antidiscriminatório”.

Antecedentes discriminatórios da Rede de Farmácias São João


Em outubro de 2021, a mesma Rede de Farmácias São João tinha se envolvido em outro caso de discriminação. Nessa ocasião, teria vazado um áudio de uma ex-funcionária que estava no cargo de gestão no Litoral Norte, onde orientava para que os recrutadores observassem as características físicas dos candidatos aos empregos. Ela afirmou em seu áudio:

“Vocês sabem que feio e bonito é o mesmo preço, né gente? (…) Vamos cuidar muito nas nossas contratações. Pessoas muito tatuadas VOCÊS SABEM QUE A EMPRESA NÃO GOSTA (…). Pessoas muito gordas, vocês sabem que… Então assim, cuidem as aparências. (…) Se pegar alguém, né, com todo respeito, ‘veado’ e tudo mais, tem que ser uma pessoa alinhada, que não vire a mão, não desmunheque (…)”.

 


Nessa ocasião, a empresa também tentou acobertar o caso e chegou a classificar o fato registrado como “fakenews”. No entanto, o evidente flagrante do áudio acabou obrigando a rede de farmácias a abrir uma sindicância administrativa interna para apuração dos fatos. Após concluir a investigação, a empresa repentinamente mudou de postura e supostamente “repudiou o comportamento” da então gestora, afirmando ser favorável à “diversidade e à inclusão”. Isso não passou, evidentemente, de uma falsificação descarada, pois a própria gestora afirma “vocês sabem que a empresa não gosta”, o que indica que a discriminação é uma política intrínseca à empresa.

O advogado da rede disse que a mulher “foi desligada por justa causa, porque a ação que ela praticou foi um ‘ato isolado’ que não condiz com a política da empresa”. Em outras palavras: para limpar a imagem da empresa e isentar sua prática discriminatória inerente, a Rede de Farmácias São João usou como bode expiatório sua ex-funcionária.

Sabemos que casos de discriminação nesses estabelecimentos não são nem de longe “atos isolados”, mas a regra fundamental das políticas discriminatórias e mesmo racistas que estão disseminadas nessas empresas e que são congruentes com a reprodução do modo de produção capitalista, na medida em que as opressões e todo tipo de preconceito são funcionais para a fragmentação do proletariado, dividindo-o em segmentos mais precarizados ou mesmo descartáveis (população tornada supérflua que vira alvo de eliminação, direta ou indiretamente). Também é funcional para os capitalistas colocar os proletários lutando entre si, em concorrência mercantil, em vez de lutar pela superação do modo de produção capitalista (daí as políticas afirmativas de viés identitário).

Em uma palestra realizada em abril, em Nova Prata, o presidente da Rede de Farmácias São João, Pedro Henrique Kappaum Brair, afirmou que: “O universo conspira a favor daqueles que buscam, às vezes incansavelmente, atingir suas conquistas e ter sucesso” (veja-se: link). Ao que parece, para ter “ter sucesso” é necessário “conspirar com o Universo” da seguinte forma: promovendo discriminação, reproduzindo racismo e outas práticas infames que são “incansavelmente” praticadas para “atingir conquistas”.

Posicionamento na para a manifestação contra a Rede de Farmácias São João


Perante essas práticas recorrentes no capitalismo, é evidente que nosso posicionamento não seria outro senão em prol da emancipação integral do proletariado em uma revolução social. Mas esse programa revolucionário geral exige um compromisso militante com os disparadores imediatos da revolta proletária contra o sistema. Nesse sentido, cada luta particular deve ser pensada visando cumprir os princípios da ação direta que constroem o poder e a organização autônoma do proletariado (sobre nossa discussão estratégica, veja-se: link).

Recentemente identificamos uma polarização burguesa que busca enquadrar a luta do proletariado numa frente popular antifascista (interclassista, mas dirigida por uma fração burguesa), personificada na candidatura presidencial de Lulalckmin (veja-se a esse respeito a seção “Contra a farsa eleitoral: o antifascismo constrói as bases da vitória reacionária”, do texto disponível em: link). Na ocasião do protesto do dia 18 contra os cortes no ensino superior, nossa avaliação (não publicada no blog) foi a seguinte: as manifestações foram cooptadas para fazer campanha eleitoral, colocando de lado a questão de um enfrentamento direto aos cortes (além do mais, houveram situações de desmobilização de qualquer ação subversiva para “não atrapalhar o processo eleitoral”, conforme identificamos nas falas da frente que liderou essa cooptação).

Nesse sentido, ainda coloca-se a necessidade de ruptura com a socialdemocracia para efetivar uma direção autônoma da luta proletária, em prol de seus próprios interesses, sem reforçar ainda mais uma das frações burguesas (em especial a socialdemocracia) que não vai hesitar em apontar as armas contra as massas trabalhadoras depois de eleita (basta lembrar o que tanto o governo Lula, quanto o governo Alckmin, cada um em suas instâncias, fizeram contra as lutas proletárias e a favor dos interesses capitalistas). Portanto, reiteramos um de nossos posicionamentos na seguinte palavra de ordem: Abaixo à farsa eleitoral! Ação direta contra o Capital!

No que diz respeito ao contexto mais específico da luta antirracista contra a Rede de Farmácias São João, consideramos necessário uma medida efetiva contra a empresa. Portanto, nosso posicionamento nessa luta em particular é o seguinte: Abaixo o racismo capitalista! Pelo fechamento da São João da Bento Gonçalves!

Acreditamos que o fechamento da loja seria apenas uma vitória parcial, mas ainda sim uma vitória e sinal de conquista de autonomia perante as forças burguesas da atual situação histórica brasileira. Esse objetivo pode ser conquistado mobilizando a fúria e a revolta incendiária do proletariado até suas últimas consequências no ato do dia 29.

Caso tenhamos êxito, estaremos impondo uma ação exemplar significativa nas vésperas do espetáculo eleitoral da burguesia! Por isso: Avante bárbaros proletários! Não temos nada a perder senão nossas correntes!

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